Carros elétricos usados se tornam um problema em países ricos
Na China, por exemplos, carros elétricos usados vão parar em “cemitérios” por conta da falta de demanda
César Tizo - janeiro 3, 2024
Mais uma questão começa a prejudicar a adoção dos carros elétricos ao redor do mundo: a baixa liquidez no mercado de usados.
No fim de dezembro de 2023, uma interessante reportagem da Fortune tomando como base os principais mercados automotivos no mundo relatou um grave problema que está abalando não só os proprietários de carros elétricos, mas também as fabricantes que estão apostando alto nesse segmento.
De acordo com o relato da revista norte-americana, consumidores em regiões como Europa, EUA e China não estão considerando a compra de um automóvel elétrico usado, o que, por tabela, também diminui a aceitação de suas contrapartes 0 km nesses locais.
“Não há demanda por veículos elétricosno segmento de carros usados. Isso está abalando profundamente a questão do custo de propriedade“, declarou Matt Harrison, COO da Toyota na Europa, à reportagem.
Essa falta de liquidez e a consequente perda acentuada do valor do ativo está impactando quem lida diretamente com essa questão, como grandes frotistas e locadoras. A alemã Sixt SE, por exemplo, anunciou que não vai mais operar veículos da Tesla.
“Quando um carro perde 1% do seu valor, tenho 1% menos lucro. A baixa procura por veículos elétricos de segunda mão tem o potencial de destruir bilhões de euros em lucros para a indústria em geral”, observou Christian Dahlheim, que dirige o braço de serviços financeiros da VW, em entrevista para a publicação norte-americana.
Na China, por exemplo, a Fortune cita um fato que pode servir de “advertência” para outros mercados.
Após os generosos incentivos dados pelo governo para acelerar a transição dos consumidores rumo aos automóveis elétricos, a dificuldade na revenda desses produtos motivou a criação de “cemitérios” em algumas cidades do país para abrigar os carros elétricos usados que não encontraram novos donos.
Segundo especialistas, a falta de interessados nos elétricos de segunda mão nas principais economias do mundo ocorre por motivos como a ausência dos subsídios dados aos carros elétricos 0 km, a falta de infraestrutura adequada para recarga e a opção dos consumidores de aguardar pela próxima geração de carros elétricos, que será lançada em grande parte a partir de 2025 oferecendo avanços técnicos significativos em especial na tecnologia de baterias.
Outro acontecimento que alterou as bases do segmento de carros elétricos em especial na Europa foi a chegada de marcas chinesas oferecendo esses veículos a preços competitivos, o que desencadeou uma guerra comercial agressiva e a redução nos preços dos produtos 0 km de gigantes como VW e Stellantis, depreciando ainda mais os elétricos usados.
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Questão cultural?
Analistas realçam que a pouca liquidez dos automóveis elétricos no mercado de usados também pode ser creditada à falta de experiência de empresas e revendedores envolvendo a tecnologia.
Enquanto um automóvel usado a combustão é facilmente precificado hoje em dia levando em conta atributos como idade e quilometragem, um veículo elétrico ainda demanda mais experiência por parte dos lojistas para determinar o estado de degradação da bateria, por exemplo, item que responde por cerca de 30% do valor de um automóvel elétrico hoje em dia.
Talvez como um viés positivo, a relutância dos consumidores em migrar para um carro elétrico pode fomentar uma segmentação de negócio, no caso a locação ou assinatura de um automóvel.
“Os carros elétricos poderão impulsionar a transição da necessidade da posse de um automóvel para o pagamento apenas por sua utilização“, declarou Annie Pin, diretora comercial da Ayvens, companhia francesa especializada em mobilidade sustentável, à Fortune.
Enquanto o mercado de carros puramente elétricos ainda engatinha no Brasil e ganhou força apenas em 2023 com a chegada de modelos como o BYD Dolphin e o GWM Ora 03, é fato que especialistas preveem uma depreciação superior dos veículos elétricos na hora da revenda em relação aos automóveis a combustão.
Algo, portanto, que deve ser ponderado por quem está considerando a compra de um automóvel com este tipo de propulsão.
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