Mais crédito e menos inadimplência: financeiras de montadoras seguem otimistas em 2025
Com demanda aquecida e novas regras do Marco de Garantias, setor projeta crescimento do financiamento de veículos mesmo com juros elevados
César Tizo - março 12, 2025
O mercado automotivo brasileiro registrou um crescimento expressivo de 14% em 2024, superando com folga a média global de 2%. Esse avanço foi impulsionado, principalmente, pelo acesso facilitado ao financiamento, um fator determinante para o aumento das vendas de veículos zero-quilômetro no país. Segundo a Associação Nacional das Empresas Financeiras das Montadoras (Anef), 46% das compras de veículos leves no ano passado foram realizadas por meio de crédito, movimentando um total de R$ 272,7 bilhões em financiamentos.
O volume de veículos financiados cresceu mais de 30% na comparação com 2023, conforme dados da B3, que registra os gravames no Brasil. De janeiro a novembro de 2024, as novas concessões de crédito para a compra de automóveis atingiram R$ 192,2 bilhões, um avanço de 24,4% sobre o mesmo período do ano anterior.
Esse cenário reflete um movimento de maior confiança do consumidor, aliado a estratégias comerciais agressivas por parte das montadoras e concessionárias. O professor Raphael Cordeiro, especialista em Carteira de Investimentos e Sistema Financeiro Nacional da PUC-PR, destaca que a concorrência no setor impulsionou a busca pelo financiamento. “Muitas montadoras, em parceria com suas concessionárias, oferecem entrada reduzida, prazos estendidos, parcelas flexíveis, programas de recompra e até juros zerados para determinados modelos. Isso torna o financiamento mais atrativo para o consumidor”, explica.
Além de facilitar a aquisição do carro, o financiamento estruturado tem contribuído para a redução da inadimplência no setor. De acordo com a Anef, a taxa de atraso nos pagamentos caiu 0,3 ponto percentual entre pessoas físicas e 0,7 ponto percentual entre empresas. Segundo Cordeiro, isso se deve ao fato de que o veículo financiado serve como garantia, o que leva o comprador a priorizar o pagamento das parcelas para evitar a perda do bem.
Perspectivas otimistas para 2025
Apesar do crescimento em 2024, o mercado de financiamento de veículos deve enfrentar desafios neste ano, principalmente devido à taxa básica de juros (Selic), que segue elevada. O presidente da Anef, Paulo Noman, admite que o custo do crédito pode ser um entrave, mas acredita que o setor continuará encontrando alternativas para manter as vendas aquecidas. “Temos que trabalhar com criatividade, oferecendo soluções personalizadas, prazos mais flexíveis e pagamentos residuais ao final do contrato, algo que já estamos implementando”, afirma. A entidade está otimista com os resultados projetados para 2025 e espera um crescimento de 8,5% nos recursos liberados para financiamento de veículos, que devem atingir R$ 297 bilhões.
O vice-presidente da Tecnobank, Luís Otávio Matias, ressalta que, embora a Selic encareça o crédito e reduza o interesse pelo financiamento, outros fatores podem sustentar a demanda no setor. A taxa de desemprego, por exemplo, deve fechar 2025 em torno de 6%, o menor índice em anos, refletindo uma maior renda disponível para os consumidores. “Com a inadimplência em patamar historicamente baixo, temos um cenário favorável para a continuidade do crescimento do setor”, avalia Matias. Segundo ele, a segurança no emprego incentiva a tomada de crédito, enquanto a baixa taxa de inadimplência reforça a confiança dos bancos e financeiras na concessão de novos financiamentos.
Outro fator que pode contribuir para a expansão do crédito em 2025 é o impacto positivo da Lei Federal 14.711/23, conhecida como Marco Legal das Garantias. A nova regulamentação fortalece a segurança jurídica das operações de financiamento, reduzindo riscos para os credores e ampliando as possibilidades de acesso ao crédito. De acordo com Fenabrave e Anfavea, os efeitos dessa lei já começaram a ser sentidos em 2024, mas devem se intensificar ao longo deste ano.
As projeções do mercado apontam para uma expansão de aproximadamente 12% no financiamento de veículos para pessoas físicas em 2025. “A combinação de emprego, crédito e baixa inadimplência deve manter o mercado aquecido. Além disso, há uma demanda reprimida e capacidade produtiva suficiente para atendê-la”, explica Matias.
Uma pesquisa da Webmotors reforça essa expectativa, revelando que 68% dos brasileiros pretendem comprar ou trocar de carro neste ano, sendo que 37% planejam fazê-lo ainda no primeiro semestre.