Interesse por híbridos cresce, enquanto elétricos perdem fôlego no mercado global
Estudo da Deloitte aponta mudança nas preferências dos consumidores e reforça o papel da tecnologia na decisão de compra
César Tizo - março 14, 2025
O mercado automotivo global vive um momento de transição nas preferências dos consumidores. Segundo o estudo Global Automotive Consumer, realizado pela Deloitte com 30 mil pessoas em 30 países, a procura por veículos elétricos perdeu fôlego, enquanto os modelos híbridos ganham popularidade. O levantamento aponta que a preocupação com autonomia, a infraestrutura limitada de recarga e o possível corte de incentivos fiscais têm freado o avanço dos elétricos, tornando os híbridos uma escolha mais equilibrada para quem busca eficiência energética sem abrir mão da praticidade.
Nos Estados Unidos, a resistência aos elétricos se tornou evidente: 62% dos entrevistados afirmaram que a próxima compra será um carro a combustão, enquanto apenas 5% pretendem optar por um elétrico puro. Já os híbridos e híbridos plug-in, que combinam motores elétricos e a combustão, representam 26% das intenções de compra, um crescimento contínuo nos últimos anos.
A tendência se repete em mercados asiáticos. No Japão, 60% dos consumidores disseram preferir um veículo eletrificado (híbrido ou elétrico), enquanto na China esse percentual é de 46%. Ainda assim, houve uma redução da intenção de compra de carros a combustão em ambos os países, reflexo dos incentivos para veículos mais eficientes e da busca por soluções de mobilidade sustentáveis.
Tecnologia e conectividade
Outro ponto de destaque do estudo foi a influência crescente da tecnologia na decisão de compra dos consumidores. Os motoristas estão cada vez mais exigentes em relação à conectividade e aos sistemas de assistência à condução. Na Índia e na China, mais de três quartos dos entrevistados disseram considerar essencial que seus veículos tenham integração com smartphones e inteligência artificial embarcada.
O avanço dos veículos autônomos, por outro lado, ainda gera desconfiança. No Reino Unido e na Índia, mais de 60% dos consumidores demonstraram preocupação com a ideia de compartilhar estradas com robotáxis e veículos comerciais sem motorista. Apesar dos investimentos da indústria em direção autônoma, a aceitação do público segue como um desafio para o setor.
Brasil segue em ritmo próprio
Embora o Brasil não tenha sido diretamente abordado no estudo da Deloitte, o mercado nacional reflete algumas das tendências apontadas. Nos últimos dois anos, marcas como BYD, GWM e Stellantis impulsionaram o lançamento de híbridos e elétricos, e o interesse por esses modelos tem crescido. Em 2024, foram vendidos 177.358 veículos eletrificados no Brasil, sendo um terço deles híbridos plug-in, segundo dados da Associação Brasileira de Veículos Elétricos (ABVE). No entanto, essa quantidade ainda representa menos de 7% do total de carros vendidos no país no período.
Entre os fatores que impulsionam os híbridos no Brasil está a versatilidade da tecnologia. Como destaca Paulo de Tarso, sócio líder da Indústria de Consumo da Deloitte no Brasil, os consumidores valorizam a possibilidade de rodar no modo elétrico em trajetos urbanos e contar com o motor a combustão para viagens mais longas. “O híbrido permite que o motorista tenha o ‘melhor dos dois mundos’: eficiência energética e praticidade no abastecimento”, explica.
Fatores tradicionais
Apesar das transformações no mercado, critérios tradicionais como preço, qualidade e desempenho seguem como os principais motivadores da escolha de um veículo. Segundo o estudo, metade dos consumidores globais ainda prioriza esses fatores na decisão de compra, acima de aspectos como eletrificação e tecnologia embarcada.
O levantamento também apontou diferenças regionais quanto à lealdade às marcas. Enquanto na China há maior abertura para experimentar novas fabricantes, no Japão a fidelidade às montadoras tradicionais permanece forte. Nos Estados Unidos, os consumidores estão mais divididos, alternando entre marcas estabelecidas e novas opções do mercado.
Outro aspecto relevante é a influência geracional na decisão de compra. Na Índia, 70% dos consumidores da geração Y (18 a 34 anos) estão dispostos a abrir mão da posse do carro em favor de soluções de mobilidade compartilhada, como aplicativos e transporte público melhor estruturado. Na Alemanha, no entanto, apenas um em cada três jovens consideraria essa mudança, reforçando as diferenças culturais na relação com o automóvel.
O futuro do setor
O estudo da Deloitte reforça que, apesar do avanço das novas tecnologias, a indústria automotiva ainda precisa equilibrar inovação com os fatores que historicamente pesam na decisão de compra. Os elétricos enfrentam desafios estruturais para se tornarem a escolha dominante, enquanto os híbridos seguem conquistando consumidores como alternativa mais acessível e prática.
Com a evolução da conectividade e dos sistemas de assistência, a tecnologia seguirá desempenhando um papel essencial no setor, mas sem substituir fatores como preço e qualidade, que continuam no topo da lista de prioridades dos compradores. O mercado global se adapta às novas demandas, mas, ao que tudo indica, a transição para a mobilidade elétrica será mais gradual do que se imaginava.
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