Tarifas de Trump podem afetar setor automotivo no Brasil
Embora o Brasil não esteja na mira direta das novas tarifas dos EUA, mudanças no fluxo global de investimentos e exportações podem afetar a produção e a concorrência no mercado automotivo nacional
César Tizo - abril 8, 2025
Os indicadores do primeiro trimestre de 2025 sinalizam uma recuperação parcial da indústria automotiva brasileira em relação ao início fraco de 2024, mas os dados de março trouxeram um alerta importante, ressaltou a Anfavea em sua coletiva de imprensa realizada nesta terça-feira (8).
A produção de veículos em março (190 mil unidades) caiu 12,6% frente a fevereiro, sendo o pior resultado para o mês desde março de 2022. Embora o acumulado do trimestre (583 mil unidades fabricadas) aponte alta de 8,3% sobre o mesmo período do ano passado, a desaceleração recente e a queda nas exportações indicam um cenário mais cauteloso para os próximos meses.
As vendas internas, por sua vez, mantiveram ritmo crescente: março registrou média diária de 10,3 mil unidades, 11,3% a mais que fevereiro. No acumulado, os emplacamentos somaram 552 mil veículos, alta de 7,2%. No entanto, esse avanço se deu majoritariamente pelas vendas diretas, especialmente para locadoras, e por modelos importados – que responderam por 61% do crescimento das vendas. Somente veículos vindos da Argentina e da China representaram 22,6 mil das 37,2 mil unidades adicionais no trimestre.
Ao mesmo tempo em que os embarques para a Argentina subiram 120% no acumulado, ajudando as exportações brasileiras a crescerem 40,6% no trimestre, março trouxe uma retração de 19% nas exportações frente ao mês anterior. A dúvida agora é se essa queda pontual representa uma oscilação sazonal ou o início de uma tendência de desaceleração nas vendas externas.
No campo político-econômico, os riscos aos investimentos voltaram ao centro do debate durante a coletiva de imprensa da Anfavea. O presidente da entidade, Márcio de Lima Leite, alertou para o atraso na regulamentação do programa MOVER, a falta de recursos para pesquisa e desenvolvimento e a indefinição sobre a recomposição do imposto de importação para veículos eletrificados. Esses fatores já estão afetando decisões estratégicas dos fabricantes e podem comprometer parte dos aportes planejados para o país.
Tarifas
A situação ainda se agrava diante de pressões internacionais. As novas tarifas impostas pelo governo dos Estados Unidos – medidas de viés protecionista adotadas pelo presidente Donald Trump – já têm reflexos negativos na geopolítica econômica global. Segundo dados compilados pela Anfavea, a elevação das tarifas levará, no curto prazo, à queda na comercialização de cerca de 1 milhão de veículos no mercado dos EUA, aumento de custos, inflação e atraso na transição para eletrificados.
Esse movimento também repercute diretamente no Brasil. De acordo com análise da Anfavea, como algumas montadoras serão forçadas a redirecionar investimentos para os Estados Unidos — a fim de produzir localmente e evitar sobretaxas —, a capacidade ociosa em países exportadores, como o México, tende a crescer. Isso deverá levar o país norte-americano a buscar novos destinos para seus produtos.
No Brasil e demais vizinhos da América do Sul, essa concorrência com os veículos mexicanos pode atrasar novos aportes das fabricantes, que já enfrentam um cenário de “grande tensão global”, conforme alertou Márcio de Lima Leite. A Nissan, por exemplo, anunciou no mês passado que vai transferir a produção da Frontier da Argentina para o México a partir de 2026.
A falta de previsibilidade em investimentos e acordos comerciais, tanto no cenário interno quanto externo, eleva o grau de incerteza para os próximos meses. “Esses impasses podem comprometer parte dos investimentos anunciados para o Brasil, sobretudo num momento de grande tensão global, com as tarifas impostas pelo governo dos EUA impactando negativamente toda a geopolítica econômica global, inclusive o setor automotivo nacional e sua longa cadeia de suprimentos”, explicou Lima Leite.
Enquanto o setor celebra o melhor primeiro trimestre para exportações desde 2018, os desafios estruturais e conjunturais colocam a recuperação em compasso de espera. A resposta do governo brasileiro aos pleitos do setor – e o desdobramento da política tarifária dos EUA – serão decisivos para definir os rumos da indústria automotiva nacional em 2025.
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