Pontífice argentino marcou seu papado por escolhas simbólicas, como o uso de carros modestos, e promoveu reflexões sobre sustentabilidade que também alcançam o setor automotivo
César Tizo - abril 21, 2025
O mundo se despede nesta segunda-feira de uma das figuras mais influentes e carismáticas da história recente da Igreja Católica.
O Papa Francisco faleceu deixando um legado que transcende a esfera religiosa. Primeiro pontífice latino-americano, Jorge Mario Bergoglio conquistou admiradores pela humildade, pelo espírito de diálogo e por uma mensagem firme em defesa da justiça social e da preservação do meio ambiente.
Para além dos grandes discursos, Francisco marcou seu pontificado com gestos simbólicos e um deles chamou a atenção até mesmo do universo automotivo.
Em vez do tradicional papamóvel luxuoso, o Papa optou, em diversas ocasiões, por modelos simples, como o Fiat Panda, o Ford Focus e até mesmo um Renault 4, doado por um sacerdote italiano.
Segundo o Musei Vaticani, o Renault 4 foi entregue ao Papa Francisco em 7 de setembro de 2013 por Don Renzo Zocca, que por muitos anos atuou como pároco no bairro operário de Saval, em Verona.
Tendo exercido seu ministério sacerdotal nas periferias e vivenciado o significado de uma Igreja “pobre para os pobres”, Don Zocca ficou profundamente tocado pelas palavras e pelos gestos simples, mas ao mesmo tempo concretos e poderosos, demonstrados por Francisco após sua eleição.
O Renault 4 havia sido presenteado a Don Zocca em 1984 por Eraldo Polato, então vice-presidente do Verona, time de futebol do qual o padre era capelão. Com motor de apenas 30 cv e câmbio de quatro marchas — um símbolo da simplicidade presente nas regiões periféricas — o carro já havia rodado 300 mil quilômetros no momento da doação ao Papa, reflexo das longas jornadas de Don Zocca para levar ajuda, apoio e consolo aos mais necessitados de sua comunidade.
Em 2013, ao visitar o Brasil na Jornada Mundial da Juventude, o Papa chegou a ser conduzido em um Fiat Idea. Longe de uma excentricidade, suas escolhas refletiam a coerência com o discurso de uma Igreja mais próxima do povo.
Mas Francisco também deixou sua marca nos debates contemporâneos sobre mobilidade e sustentabilidade. Em sua encíclica Laudato Si’, de 2015, fez um contundente apelo pela “casa comum”, alertando sobre os impactos das mudanças climáticas e a responsabilidade das sociedades modernas em repensar seus modelos de consumo — inclusive o uso intensivo de combustíveis fósseis.
Foi uma mensagem que encontrou eco entre líderes mundiais, instituições e até mesmo na indústria automotiva, que vem acelerando a transição para fontes de energia mais limpas.
Em tempos de transformações no setor — com a expansão dos veículos elétricos e o avanço de políticas públicas voltadas à descarbonização —, o pensamento do Papa Francisco ressoa como um lembrete de que mobilidade, ética e sustentabilidade precisam andar juntos.
Mais do que um líder religioso, Francisco foi também um símbolo de coerência entre palavra e ação. Uma figura que inspirou, provocou e deixou uma contribuição permanente à humanidade — inclusive no modo como nos movemos pelo mundo.
