“Dieselgate” leva ex-executivos da VW à prisão na Alemanha
Quatro ex-gerentes da VW foram considerados culpados por fraude agravada no caso das emissões adulteradas; esquema envolveu 9 milhões de veículos e gerou prejuízo de € 2,1 bilhões
César Tizo - maio 26, 2025
Um tribunal regional em Brunswick, na Alemanha, condenou quatro ex-executivos da Volkswagen por envolvimento direto na manipulação de emissões de poluentes em milhões de carros a diesel — o escândalo que ficou conhecido como “Dieselgate”. Segundo a sentença, o grupo causou prejuízos de € 2,1 bilhões a consumidores ao comercializar veículos equipados com dispositivos ilegais que burlavam os testes de emissões.
Jens Hadler, que liderou o desenvolvimento de motores diesel da marca entre 2007 e 2011, recebeu a pena mais severa: 4 anos e meio de prisão pela venda de mais de 2 milhões de carros afetados. Hanno Jelden, ex-engenheiro sênior, foi condenado a 2 anos e 7 meses por fraude qualificada envolvendo quase 3 milhões de veículos.
Heinz-Jakob Neusser, ex-chefe de desenvolvimento de motores, recebeu uma pena suspensa de 1 ano e 3 meses. Já um gerente de escalão inferior, identificado apenas como Thorsten D., também recebeu pena suspensa de 1 ano e 10 meses.
O cerne das alegações, segundo o juiz Christian Schütz, era que os carros estavam equipados com os chamados dispositivos manipuladores, que ajustavam automaticamente os padrões de operação dos motores conforme o ambiente de funcionamento do veículo.
Durante testes de laboratório, os níveis se mantinham dentro do permitido. Mas, nas ruas, em cenários de “condução real”, as emissões de óxidos de nitrogênio eram muito superiores. “As autoridades que certificaram os carros não foram informadas de que as emissões eram muito maiores em condições reais de uso”, destacou o magistrado. “É absolutamente claro que isso não estava em conformidade com a lei.”
Todos os réus foram considerados culpados por fraude qualificada ao integrarem um grupo que visava enganar os consumidores. A decisão de implementar o software ilegal foi tomada em uma reunião decisiva em 2006, da qual participaram três engenheiros — incluindo Jelden. “Eles cometeram crimes durante vários anos e ocupavam posições de liderança”, disse Schütz.
Apesar da gravidade dos crimes, todas as sentenças foram reduzidas devido ao tempo prolongado que o Ministério Público levou para apresentar o caso, que começou a ser julgado em 2021 após sucessivos adiamentos.
Hadler foi o mais punido por ter ocupado cargo de destaque durante o auge da fraude e por não ter impedido o esquema. “Sua palavra era respeitada dentro da VW. Ele era ouvido por seus superiores. Ele tinha a capacidade de impedir as coisas”, afirmou o juiz.
Já Thorsten D. colaborou desde o início da investigação e foi o primeiro a admitir às autoridades dos Estados Unidos o uso do defeat device, o que lhe rendeu a pena mais branda.
Embora Jelden também tenha cooperado parcialmente, como ele estava presente na reunião-chave com os demais executivos em 2006, o fato justificou uma pena mais rígida.
Neusser, por sua vez, só teria tomado conhecimento da fraude em 2013, quando foi informado sobre uma nova funcionalidade planejada para o software fraudulento. Ainda assim, o juiz estimou que sua omissão resultou em prejuízos de quase € 27 milhões.
O “Dieselgate” veio à tona em setembro de 2015, quando a Volkswagen admitiu às autoridades norte-americanas que havia burlado os testes de emissões.
Desde então, o escândalo já custou mais de € 33 bilhões à montadora, entre multas e acordos judiciais. Uma ação coletiva de investidores, que pede € 9 bilhões, ainda está em curso na Alemanha.
O ex-CEO da Volkswagen, Martin Winterkorn, também foi acusado, mas seu julgamento foi adiado por motivos de saúde. Ao todo, 31 pessoas seguem formalmente indiciadas por envolvimento no caso e aguardam julgamento — o próximo está marcado para novembro.
10 anos depois, primeiros ex-executivos da Volkswagen são condenados pelo “dieselgate”
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