Artigo | Jaguar em crise de identidade: quando o marketing atropela a essência
Rodrigo Cerveira, CMO da Vórtx e co-fundador do Strategy Studio, analisa o rebrand polêmico da marca inglesa
César Tizo - maio 28, 2025
Rodrigo Cerveira, CMO da Vórtx e co-fundador do Strategy Studio, analisa o polêmico rebrand da Jaguar e o impacto que ele pode resultar na percepção da marca. O profissional conta com 30 anos de experiência em estratégia, liderança e desenvolvimento de negócios globais e locais. É especializado em construção de marca e estratégia criativa e formado em Publicidade e Marketing pela Faculdade Cásper Líbero, com Extensão em Gestão pelo INSEAD (Instituto Europeu de Administração de Negócios)
A Jaguar tornou-se notícia novamente, com o recente rumor de que estaria trocando sua agência de propaganda, responsável pelo rebrand polêmico. Uma vez sinônimo de velocidade e sofisticação, a Jaguar decidiu reinventar-se, focando no brilho só da beleza em vez da essência que construiu sua lenda: o produto e a performance. Entre aplausos e críticas, fica a pergunta: será essa a estrada certa?
Um desvio do destino, com o produto em segundo plano. A busca obsessiva da Jaguar por uma imagem contemporânea vai de encontro à sua própria essência. Ao esquecer a sua alma, a marca desfigura sua identidade. Em vez de ressoar com a performance e o design que a tornaram famosas, a partir da criação de produtos ícones, a campanha focou mais no poder da imagem projetada, deixando de lado o seu legado e alma, ou seja, o design, o luxo, a velocidade e a sedução do movimento.
Seduzir com espelhos, uma armadilha quando a Jaguar fica apenas na superfície, ignorando o desejo visceral dos verdadeiros devotos de automóveis de luxo, que valorizam a exclusividade, a qualidade superior, o prazer absoluto de dirigir e a performance inigualável. A marca flerta perigosamente com o erro ao não perceber que esse público anseia pela adrenalina da máquina perfeita, inatingível, mas sempre justificada.
Ao escolher focar em sua imagem em vez de focar em suas máquinas, a Jaguar parece não estar enxergando os desafios do mercado contemporâneo. Em um mundo onde a Geração Z de alto poder aquisitivo cultua marcas e experiências autênticas, reconhecendo a sustentabilidade e olhando com ceticismo para a indústria automobilística, a Jaguar patina em um desfile de vaidades, presa a signos superficiais e, em certa medida, estereotipada do que é ser contemporânea.
Talvez seja a hora da Jaguar despertar de seu torpor e relembrar suas raízes — um legado de design ousado, performance vibrante e perigo sedutor que fala mais alto do que qualquer campanha publicitária. Uma marca felina, sexy e irresistível, com uma alma forjada na velocidade e na exclusividade das marcas de luxo.
A verdadeira elegância emerge da estrada, não só do glamour. Sem um novo rumo, a Jaguar arrisca tornar-se uma relíquia estática, ou seja, admirada na história, porém esquecida nas pistas. É hora da Jaguar abandonar o espelho e voltar ao asfalto, ou melhor, à sua alma.
Artigo de Rodrigo Cerveira
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