Veículos conectados levantam alerta sobre privacidade de dados no Brasil
Especialistas apontam riscos de violação da LGPD com coleta de informações pessoais por automóveis modernos sem consentimento dos usuários
César Tizo - junho 3, 2025
O avanço dos veículos elétricos e conectados no Brasil, embora represente um salto importante em tecnologia e sustentabilidade, tem levantado uma preocupação crescente entre especialistas em segurança da informação: a proteção dos dados pessoais dos motoristas e passageiros.
Com a chegada de montadoras estrangeiras que oferecem automóveis altamente digitalizados, aumenta o risco de coleta de dados sensíveis sem o devido consentimento, o que pode configurar violação grave da Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD). A digitalização embutida nesses veículos, que inclui recursos como conectividade em tempo real, comandos por voz e integração com aplicativos, também torna os carros verdadeiras plataformas de coleta de dados.
De acordo com Thiago Guedes, CEO da Deserv, empresa especializada em segurança da informação, casos similares já despertaram preocupação em outros países. Um relatório recente da empresa de cibersegurança Sophos, divulgado pelo portal Soko Directory, revelou que a França iniciou investigações sobre veículos chineses conectados por suspeita de coleta massiva de dados — incluindo localização, padrões de direção e preferências dos usuários — com possível envio das informações para servidores no exterior, especialmente na China.
No Brasil, a legislação sobre o tema é clara. A advogada Bruna Fabiane da Silva, sócia da DeServ Academy e coautora do livro LGPD: Muito além da Lei, ressalta que a coleta e o uso de dados pessoais por veículos conectados precisam atender aos princípios da LGPD, como finalidade, necessidade, transparência e segurança. “Se um automóvel coleta dados sensíveis sem consentimento explícito do titular ou sem mecanismos de controle local, isso pode ser considerado uma infração grave”, explica.
Outro ponto crítico, segundo a especialista, é a transferência internacional de dados. A legislação exige que o país de destino ofereça nível de proteção compatível com o brasileiro ou que sejam adotadas cláusulas contratuais específicas. “Na ausência dessas garantias, as empresas envolvidas — sejam montadoras, importadoras ou revendedores — podem ser responsabilizadas pela Autoridade Nacional de Proteção de Dados (ANPD), além de comprometerem a relação de confiança com o consumidor brasileiro”, afirma Bruna.
A discussão ocorre em um momento em que o Brasil já lidera o mercado de carros eletrificados na América Latina, respondendo por 42,6% das vendas na região, conforme aponta o 2º Relatório de Mobilidade Sustentável – Perspectiva do Brasil, divulgado durante o Latam Mobility & Net Zero Brasil 2025, pela empresa EvolvX.
Para os especialistas, é urgente que o setor automotivo adote políticas efetivas de governança em privacidade, desde o desenvolvimento até a comercialização dos veículos. Isso inclui avaliações de impacto, conformidade com normas locais e comunicação transparente com o consumidor sobre quais dados são coletados, para quais finalidades e onde são armazenados.
“A digitalização do setor automotivo precisa caminhar em equilíbrio com a responsabilidade em segurança da informação. O papel das empresas brasileiras especializadas em proteção de dados será cada vez mais estratégico na orientação e fiscalização das boas práticas nesse novo cenário”, conclui Guedes.
Carros conectados acendem alerta envolvendo coleta de dados do veículo
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Vera Xavier
1 dia atrás
Nossos dados, cada vez mais são expostos e, pior para todos tipo de utilização. Lamentável
Aurélio BM
1 dia atrás
Excelente artigo. Nos remete a uma reflexão profunda do que ainda virá e de como vivermos bem com o que já temos em termos de tecnologia.
A tecnologia já domina e dominará cada vez a vida na Terra.
Tudo tem dois lados.
Enfim, novos tempos, novos desafios.
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Nossos dados, cada vez mais são expostos e, pior para todos tipo de utilização. Lamentável
Excelente artigo. Nos remete a uma reflexão profunda do que ainda virá e de como vivermos bem com o que já temos em termos de tecnologia.
A tecnologia já domina e dominará cada vez a vida na Terra.
Tudo tem dois lados.
Enfim, novos tempos, novos desafios.