Trocar de carro virou tabu? Por que brasileiros estão adiando a compra mesmo com queda nos preços
Carros seminovos e usados registraram uma média de queda nos preços de até 8% no primeiro semestre de 2025
Redação - julho 21, 2025
Nos últimos meses, os preços dos carros usados caíram, em alguns casos, bem abaixo da tabela Fipe, que serve como referência para as negociações no Brasil.
Por exemplo, a oferta de carros usados em BHcresceu muito nos últimos tempos, com valores atrativos, condições facilitadas e até bônus para troca.
Mas, mesmo com esse cenário teoricamente favorável, muita gente tem adiado a decisão de trocar de carro. Por quê?
A resposta envolve mais do que o valor do veículo em si.
O brasileiro está fazendo as contas com mais cautela, pesando fatores econômicos, emocionais e até culturais na hora de decidir se vale a pena fazer essa troca agora.
Queda nos preços não garante venda
De acordo com a Associação Brasileira das Empresas Revendedoras de Veículos Automotores (ASSOVESC), os carros seminovos e usados registraram uma média de queda nos preços de até 8% no primeiro semestre de 2025.
A KBB Brasil, especializada em precificação automotiva, também mostrou que modelos populares como Fiat Argo, Chevrolet Onix e Hyundai HB20 perderam valor nos últimos meses.
Mesmo assim, o mercado continua travado.
Em boa parte das lojas e plataformas online os estoques estão altos e o giro de vendas mais lento que o esperado para o período.
Crédito mais caro e restrito é o principal vilão
O principal obstáculo para quem quer trocar de carro hoje é o financiamento.
Apesar da recente queda na taxa Selic, o crédito para veículos ainda está com juros altos e exigindo entrada maior ou prazos mais curtos.
Segundo dados do Banco Central, a taxa média de juros para financiamento de veículos em junho de 2025 foi de 26,9% ao ano, patamar considerado alto para boa parte da população.
Além disso, os bancos estão mais seletivos.
Pessoas com renda variável, autônomos ou com nome sujo enfrentam mais dificuldades para conseguir crédito, e quando conseguem, as parcelas ficam salgadas.
Insegurança econômica faz consumidor recuar
A inflação em queda e a leve recuperação do poder de compra ainda não foram suficientes para restaurar a confiança do consumidor.
Segundo levantamento da CNI (Confederação Nacional da Indústria), 61% dos brasileiros afirmam que estão postergando grandes compras por insegurança com o futuro financeiro da família.
Trocar de carro, para muitos, entra na categoria de “compra emocional e de risco”.
Isso vale especialmente para famílias que já possuem um veículo funcionando bem, mesmo que mais antigo, e que não veem urgência real na troca.
A valorização dos carros durante a pandemia virou desconfiança
Entre 2020 e 2022, durante a pandemia, os carros usados se valorizaram de forma inédita.
Modelos que, normalmente, perderam valor ano após ano passaram a ser vendidos até acima da Fipe.
Esse fenômeno criou uma distorção no mercado, e agora, com a normalização dos preços, muitos consumidores temem fazer um “mau negócio”.
Quem comprou carro no auge dos preços teme vendê-lo agora com prejuízo.
E quem está buscando um usado não sabe mais em quem confiar.
Essa percepção ainda pesa nas negociações, especialmente em grandes cidades como BH, onde a oferta é alta e a competição entre revendas é intensa.
A troca de carro virou escolha mais racional
Outro fator importante: o brasileiro está mais racional ao decidir trocar de carro.
Antes, era comum ver trocas motivadas por status, estética ou mesmo pela vontade de “andar de modelo novo”.
Agora, segundo pesquisa do Datafolha em parceria com a Fenabrave, mais de 73% dos entrevistados afirmam que só pretendem trocar de carro se for por necessidade real, como aumento da família, problema mecânico recorrente ou mudança no estilo de vida (como rodar mais por trabalho, por exemplo).
O papel do carro mudou
Com a expansão dos aplicativos de transporte, a facilidade de delivery e a volta gradual do transporte público, o carro deixou de ser item indispensável para muitos brasileiros.
Em cidades grandes, com trânsito intenso e dificuldade de estacionamento, manter um carro pode ser mais um custo do que um benefício.
Além disso, a manutenção, o seguro e o IPVA continuam pesando no bolso.
Mesmo com preços de compra mais baixos, o custo de uso e manutenção ainda afasta o consumidor da decisão de troca.
O que fazer se você está em dúvida?
Se você está pensando em trocar de carro e não sabe se esse é o melhor momento, aqui vão algumas dicas práticas:
Consulte a tabela Fipe, mas verifique também os preços reais praticados nos portais de venda.
Faça simulações de financiamento considerando juros atuais e comparando com leasing ou consórcio.
Avalie se o seu carro atual atende bem às suas necessidades.
Lembre-se de que o melhor momento para trocar de carro é quando isso resolve um problema real, não quando está na moda.
Conclusão
A queda nos preços dos carros usados e as promoções das concessionárias não têm sido suficientes para motivar o brasileiro a trocar de carro como fazia antes.
A combinação de crédito caro, insegurança financeira e novas prioridades de vida transformou esse tipo de decisão em algo muito mais estratégico, e, para muitos, até um tabu.
Mas com planejamento e informação correta, ainda é possível fazer uma boa troca, especialmente em mercados com ampla oferta.
Fique de olho nas condições, consulte a Fipe e, principalmente, pense com calma no que faz mais sentido para sua realidade.
Crédito mais caro e restrito é um dos fatores que estão restringindo o mercado