Programa Carro Sustentável: efeito colateral preocupa setor de usados no Brasil
Com queda no IPI para modelos novos, lojistas enfrentam desvalorização de estoques e retração nas vendas
César Tizo - julho 22, 2025
A recente decisão do governo federal de zerar o IPI para veículos compactos com maior eficiência energética, no âmbito do programa Carro Sustentável, começou a provocar efeitos colaterais relevantes no mercado de veículos usados e seminovos.
Embora a medida tenha como objetivo renovar a frota nacional e estimular a compra de carros novos, os reflexos já se fazem sentir entre concessionárias e lojistas especializados em modelos de segunda mão, que agora enfrentam queda na demanda, pressão sobre as margens de lucro e risco de desvalorização acelerada dos estoques.
Com o preço dos 0 km se tornando mais competitivo e novas opções de financiamento disponíveis, muitos consumidores que antes consideravam a compra de um seminovo passaram a cogitar um modelo novo, especialmente entre os compactos com motorização 1.0 flex.
Essa migração reduz o ritmo de giro do estoque e pressiona os valores de revenda, sobretudo em um mercado que já opera sob crédito seletivo e alta concorrência.
De acordo com o estudo Megadealer de Performance de Veículos Usados (PVU), o tíquete médio das vendas subiu ligeiramente em junho, atingindo R$ 88.232 — o maior valor registrado em 2025 até o momento. Apesar disso, as vendas no período caíram 5,8% em comparação com maio, segundo dados da Fenabrave.
A margem bruta manteve-se estável em 10,8%, e o tempo médio de permanência dos veículos no estoque ficou em 37 dias. Os dados mostram que, embora ainda haja procura por modelos mais equipados e de maior valor agregado, o impacto da política tributária já começa a influenciar o comportamento do consumidor.
A preocupação do setor está na possibilidade de que a valorização dos carros novos mais eficientes e menos poluentes acelere a desvalorização dos usados, especialmente entre veículos mais antigos e com motorização menos eficiente. Esse movimento compromete não apenas a lucratividade das operações de revenda, como também a saúde financeira de milhares de pontos de venda no país.
Diante de um cenário em transformação, o mercado de seminovos deverá adotar estratégias mais agressivas de precificação e renovação de portfólio, analisa a Auto Avaliar, ao mesmo tempo em que se adapta à nova realidade trazida pelo programa Carro Sustentável.
A política de incentivos, embora positiva para o meio ambiente e para o consumidor final, impõe uma fase de ajustes e incertezas ao varejo automotivo tradicional.
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