Mais de 100 milhões de brasileiros enfrentam calçadas inacessíveis nas cidades
Estudo revela que apenas 18% das ruas urbanas são livres de obstáculos; prefeituras começam a adotar inteligência artificial para mapear e corrigir falhas de acessibilidade
César Tizo - julho 24, 2025
Sair de casa a pé ainda é um desafio para a maioria dos brasileiros. Apesar de 84% da população urbana viver em ruas com algum tipo de calçada, apenas 18% dessas vias são consideradas livres de obstáculos, segundo o IBGE. Quando o foco é acessibilidade para cadeirantes, o cenário se agrava: só 15,2% das pessoas têm acesso a rampas adequadas. Isso significa que mais de 119 milhões de brasileiros continuam excluídos do direito básico de circular com segurança e autonomia pelas cidades.
As barreiras são muitas e estão por toda parte — embora muitas vezes invisíveis para quem não depende delas. Degraus irregulares, buracos, calçadas esburacadas, entulhos, postes e placas mal posicionadas são obstáculos comuns que impactam diretamente a vida de pessoas com deficiência, idosos e cidadãos com mobilidade reduzida.
As consequências vão além do incômodo. Falta de acessibilidade gera isolamento social, risco de quedas e acidentes, e limita o acesso ao trabalho, educação e serviços essenciais. E, embora leis como a Lei nº 10.098/2000 e a norma técnica NBR 9050 estabeleçam padrões claros para a infraestrutura urbana, o ritmo de adequação é lento: estima-se que o país levaria mais de 70 anos para cumprir plenamente esses requisitos.
Mas um novo modelo de gestão começa a surgir. Algumas cidades brasileiras estão adotando tecnologia baseada em dados e inteligência artificial (IA) para transformar a forma como monitoram e corrigem falhas nas calçadas e demais estruturas urbanas. Um dos destaques é a startup nacional Mapzer, que criou uma plataforma capaz de mapear 32 tipos diferentes de ocorrências urbanas com veículos equipados com câmeras, sensores e IA.
Segundo a empresa, a solução já percorreu mais de 200 municípios, beneficiando cerca de 5 milhões de pessoas ao entregar diagnósticos contínuos, com cobertura completa do perímetro urbano. “A acessibilidade precisa deixar de ser tratada como adaptação e passar a ser vista como infraestrutura básica”, afirma Pierre Damasio, gerente comercial da Mapzer. “E isso só é possível com dados reais sobre onde estão os gargalos urbanos.”
Em 2024, a tecnologia da Mapzer identificou mais de 32 mil pontos críticos relacionados à acessibilidade em calçadas. Essas informações são organizadas em painéis georreferenciados que vêm sendo usados por administrações municipais para planejar obras, definir prioridades e reduzir custos com manutenções emergenciais. “Hoje, a maioria das intervenções urbanas ainda depende de denúncias. A tecnologia permite que o poder público se antecipe aos problemas e atue de forma estratégica”, completa Damasio.
Com o envelhecimento da população e a intensificação de eventos climáticos extremos, a tendência é que soluções como essa se tornem ainda mais necessárias. “Calçadas acessíveis não são só inclusão — são saúde pública, segurança viária e resiliência urbana. Precisamos parar de ver acessibilidade como gasto e enxergar como investimento em cidadania e eficiência. Porque quando a calçada é inacessível, a cidade inteira é”, conclui o executivo.
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