GM, Stellantis, Toyota e Volkswagen se unem contra proposta que ameaça a indústria automotiva local
Em carta ao presidente Lula, montadoras pedem veto a incentivo para importação de veículos desmontados e alertam para risco de desemprego e desindustrialização
César Tizo - julho 28, 2025
Os presidentes da Stellantis, General Motors, Volkswagen e Toyota no Brasil enviaram uma carta conjunta ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva solicitando o veto a qualquer medida que incentive a importação de veículos desmontados — modelo conhecido como CKD (Completely Knocked Down) — para finalização no país.
A preocupação das montadoras se concentra no risco de quebra de isonomia concorrencial e prejuízo à cadeia produtiva nacional, com impacto direto na indústria de autopeças, no nível de empregos e na balança comercial brasileira.
Na avaliação dos executivos, permitir incentivos para importações de veículos parcialmente montados “representaria um legado de desemprego, desequilíbrio comercial e dependência tecnológica”. Segundo a carta, isso poderia se consolidar como um modelo operacional permanente, reduzindo o valor agregado e o alcance da produção local.
“Não será uma etapa de transição para um novo modelo de industrialização, mas sim uma forte involução”, afirmam. Eles argumentam ainda que o Brasil tem hoje uma base industrial sólida construída ao longo de mais de 70 anos, com presença de 26 fabricantes de veículos e 508 produtores de autopeças, responsáveis por 2,5% do PIB nacional e 20% do PIB da indústria de transformação, gerando cerca de 1,3 milhão de empregos e movimentando US$ 74,7 bilhões por ano.
As empresas destacam que estão comprometidas com o desenvolvimento sustentável da mobilidade e que juntas planejam investir R$ 180 bilhões nos próximos anos, sendo R$ 130 bilhões já confirmados, incluindo novas plantas industriais e veículos eletrificados.
O documento é assinado por Emanuelle Cappellano (Stellantis), Santiago Chamorro (GM), Ciro Possobom (Volkswagen) e Evandro Maggio (Toyota). Eles reforçam que confiam na sensibilidade do governo federal para “assegurar igualdade de condições na competição pelo mercado”.
Leia a íntegra da carta enviada ao presidente Lula:
Excelentíssimo Senhor Presidente da República,
Com nossos cumprimentos, vimos expor o teor de nossas preocupações quanto ao futuro da indústria automotiva brasileira.
O setor tem sido, desde os anos 1950, um importante vetor de industrialização e de crescimento econômico para o Brasil. Nasceu de uma visão desenvolvimentista, impulsionando com sua expansão um dos maiores e mais diversificados parques industriais do mundo.
Essa sólida cadeia industrial consolidou-se ao longo de mais de 70 anos de presença no Brasil. Sucessivas ondas de investimentos no decorrer desse período formaram uma cadeia produtiva responsável por 2,5% do PIB brasileiro, 20% do PIB da indústria de transformação, pela geração de 1,3 milhão de empregos e por um faturamento anual de US$ 74,7 bilhões.
Nossa indústria planeja investir R$ 180 bilhões nos próximos anos, sendo R$ 130 bilhões já confirmados por grupos mundiais de fabricantes de veículos e autopeças.
A cadeia produtiva automotiva exibe números consistentes, que atestam o acerto da estratégia de localização da produção de veículos e seus componentes. São 26 fabricantes de veículos instalados no país e 508 produtores de autopeças.
A industrialização urbanizou o país, expandiu o mercado de trabalho, impulsionou a educação e a ciência, somando bilhões no desenvolvimento e produção de veículos e outros R$ 50 bilhões no parque de autopeças.
Esses investimentos históricos enraizaram profundamente a capacidade industrial, tecnológica e de desenvolvimento de produtos e engenharia de nosso setor, impactando positivamente a economia e a sociedade.
É nosso dever alertar, Senhor Presidente, que esse ciclo virtuoso de fortalecimento da indústria nacional está sendo colocado em risco e sofrerá forte abalo se for aprovado o incentivo à importação de veículos desmontados para serem acabados no país.
Ao contrário do que querem fazer crer, a importação de conjuntos de partes e peças não será uma etapa de transição para um novo modelo de industrialização, mas representará um padrão operacional que tenderá a se consolidar e prevalecer, reduzindo a abrangência do processo produtivo nacional e, consequentemente, o valor agregado e o nível de geração de empregos.
Por uma questão de isonomia e busca de competitividade, essa prática deletéria pode se alastrar por toda a indústria, afetando diretamente a demanda de autopeças e de mão de obra. Seria uma forte involução, que em nada contribuiria para o nível tecnológico de nossa indústria, para a inovação ou para a engenharia nacional. Representaria, na verdade, um legado de desemprego, desequilíbrio da balança comercial e dependência tecnológica.
Trazemos nossos argumentos à sua análise, Senhor Presidente, na expectativa de que seu governo assegure igualdade de condições na competição pelo mercado, vetando privilégios para a importação de veículos desmontados ou produzidos no exterior com subsídios.
Reafirmamos, desse modo concreto, nosso compromisso com o fortalecimento da indústria nacional e com o desenvolvimento econômico e social do Brasil.
Atentamente,
Emanuelle Cappellano – Stellantis Automóveis do Brasil Santiago Chamorro – General Motors do Brasil Ciro Possobom – Volkswagen do Brasil Evandro Maggio – Toyota do Brasil
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Zé Mané
4 meses atrás
Ué!
Essa mesma economia privada não é aquela que defende a livre concorrência, livre mercado sem a interferência do governo? Sqn né?
Tomem, acho é pouco.
E viva o capitalismo.
Ué!
Essa mesma economia privada não é aquela que defende a livre concorrência, livre mercado sem a interferência do governo? Sqn né?
Tomem, acho é pouco.
E viva o capitalismo.