China planeja banir maçanetas retráteis de carros por questões de segurança
Autoridades regulatórias chinesas discutem proibição completa do design que se tornou popular em veículos elétricos
César Tizo - setembro 8, 2025
As autoridades regulatórias da China estudam proibir de forma definitiva as maçanetas totalmente retráteis em automóveis, citando riscos à segurança e deficiências funcionais. A medida, se confirmada, representará uma mudança importante no design automotivo, sobretudo nos veículos de nova energia (NEVs), que popularizaram esse recurso nos últimos anos.
Segundo informações publicadas pelo portal Mingjing Pro, um rascunho com os novos padrões obrigatórios deve ser finalizado ainda em setembro. A proposta prevê o banimento das maçanetas retráteis a partir de julho de 2027, com um período de transição de um ano. Estariam liberadas apenas as maçanetas tradicionais ou semirretráteis, desde que contem com redundância mecânica para garantir abertura confiável em qualquer situação.
Críticas crescentes ao recurso
Apesar da aparência futurista e da promessa de ganhos aerodinâmicos, as maçanetas retráteis vêm sendo cada vez mais criticadas. Estudos mostram que a redução no coeficiente de arrasto (Cd) é mínima (cerca de 0,005 a 0,01 Cd em sedãs, contra os 0,03 Cd alegados por fabricantes) o que se traduz em economia de energia praticamente irrelevante. Além disso, o sistema adiciona peso ao veículo, chegando a 7 ou 8 kg extras.
Do ponto de vista de confiabilidade, os números são ainda mais preocupantes. Relatórios apontam que as maçanetas elétricas são até três vezes mais caras que as mecânicas, mas apresentam taxa de falha oito vezes maior. Em algumas marcas, defeitos nas maçanetas já respondem por 12% das ocorrências em oficinas autorizadas.
A questão da segurança é a mais sensível. Em casos de acidente, perda de energia ou incêndio, as maçanetas eletrônicas podem ficar inoperantes, dificultando o resgate de ocupantes. Acidentes recentes na China chamaram atenção para o problema, como situações em que veículos ficaram alagados ou expostos a temperaturas extremas, impedindo a abertura das portas.
Dados do sistema nacional de investigação de acidentes (NAIS) revelam que, em 2024, houve aumento de 47% nos acidentes relacionados a falhas de maçanetas, sendo 82% deles envolvendo versões retráteis. O índice de reclamações de consumidores também cresceu, incluindo casos de crianças que sofreram lesões nos dedos ao tentar abrir esse tipo de maçaneta.
Jaecoo 7 vendido no Brasil conta com maçanetas retráteis
Reação da indústria
Algumas montadoras já vinham adotando soluções alternativas. A Volkswagen, por exemplo, opta por maçanetas semirretráteis, que preservam parte da estética, mas oferecem acionamento mecânico de emergência. A Audi seguiu caminho semelhante nos novos A5L e Q6L e-tron, equipados com cordão de resgate em caso de colisão.
Até mesmo executivos de fabricantes locais criticaram a tendência. Wei Jianjun, presidente da Great Wall Motors (GWM), classificou o ganho aerodinâmico das maçanetas retráteis como “insignificante”, enquanto os problemas de peso, vedação, ruído e dependência de energia elétrica tornam o recurso pouco prático e inseguro.
Contexto regulatório
O debate sobre as maçanetas acontece em meio a uma revisão maior conduzida pelo Ministério da Indústria e Tecnologia da Informação (MIIT), que em maio iniciou mudanças nos requisitos técnicos obrigatórios de segurança para veículos. A iniciativa é parte de um movimento regulatório mais amplo para frear tendências de design vistas como prejudiciais à segurança, como a eliminação de botões físicos em favor de telas sensíveis ao toque e a substituição de espelhos convencionais por câmeras.
Na Europa, a pressão também aumenta. A partir de 2026, o Euro NCAP deixará de conceder a nota máxima de cinco estrelas a carros que concentrem funções críticas apenas em telas, sem comandos físicos dedicados, como setas, faróis, buzina e limpadores.
Se confirmada, a decisão da China poderá ditar uma tendência global, obrigando fabricantes a rever o design de futuros modelos e abrindo caminho para uma retomada de soluções mais tradicionais em nome da segurança.
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