Coluna do Edu | Rivalidades que fizeram história: de Gol x Uno a Civic x Corolla
Relembre os carros que dividiram paixões e se tornaram verdadeiros símbolos das disputas mais intensas do mercado automotivo
César Tizo - outubro 11, 2025
Eduardo Pincigher é jornalista formado pela PUC-SP e atua desde 1989, com experiência em diversas publicações e também em montadoras. Atualmente, é assessor de imprensa à frente de sua própria agência de comunicação e, em sua coluna semanal, compartilha análises e histórias do jornalismo automotivo
Ao longo das últimas décadas, nós vivenciamos duelos marcantes no mercado automotivo brasileiro. A maior parte dos segmentos de veículos, nas mais variadas épocas, sempre contou com inúmeros carros, o que transforma esses confrontos “mano a mano” em um indicativo irrefutável de sucesso – Ford F1000 versus Chevrolet D20 foi uma exceção. Era só uma contra a outra e a outra contra uma, não tinha mais ninguém no meio dessa rivalidade.
Nos demais exemplos, entretanto, sempre havia mais personagens. Entrar nessa lista abaixo já é um mérito, portanto. Quero falar hoje sobre os mais importantes embates que ocorreram no Brasil, como Gol versus Uno, por exemplo. Alguma dúvida de que foram (e são) os dois hatches compactos mais importantes da história automotiva brasileira?
Deixo para alguma outra semana a análise de disputas com projeção mundial, como Mustang e Camaro, Classe E e Série 5 ou Honda CRV e Toyota RAV 4. Hoje vamos focar nos nacionais.
Como vou dar palpite em todos os confrontos, não se ofenda, não me agrida… só discorde, livre e construtivamente. Sua opinião será sempre bem-vinda.
Gol x Uno
São dois gigantes. Mas fico com o Volkswagen. Não só pelo fato de ter sido campeão de vendas por 27 anos seguidos. Entendo até que o VW Gol é o carro mais importante da história brasileira. Com um volume de vendas ao redor de 7 milhões de unidades, ele desdobrou-se em incontáveis versões – teve motores a ar e a água, boxer ou em linha, transversal e longitudinal, turbo ou aspirado, com cabeçotes de 8, 12 ou 16 válvulas, várias cilindradas (1.0, 1.3, 1.6, 1.8 e 2.0) e variou de 50 cv a 145 cv.
O Uno, por sua vez, tem o mérito de ter inaugurado o segmento de carros populares, com o importantíssimo Mille. Também contou com inúmeras versões e propostas de motores. Foi de popular a esportivo, em trajetória semelhante à do rival. Mas o Gol tem uma história mais recheada. Ele leva.
Monza x Santana
Vou confidenciar uma coisa: o maior sonho profissional que não consegui realizar como jornalista automotivo foi o de abrir uma editora (lá nos anos 2000) para lançar uma revista semanal de automóveis, que focasse seu conteúdo editorial em serviços e na análise técnica e mercadológica de carros usados. Nunca fiz a dita cuja. Acho que teria sido um tremendo sucesso, mas não rolou. Sempre visualizei a edição número 1, inclusive, com esse comparativo na capa: “Qual o melhor usado: Monza ou Santana?”
O leitor abriria a revista e encontraria o seguinte resumo: o VW Santana sempre foi uma excelente alternativa para consumidores que buscavam um “algo a mais” em um sedã médio de luxo, isto é, o prazer ao dirigir. De resto, doutor, só dava Monza. Ele vence fácil esse embate. No Brasil, ele surgiu na carroceria hatch e com um trôpego motor 1.6. Mas virou um fenômeno quando ganhou opção sedã e motor 1.8. Tanto que foi o carro mais vendido do país – único modelo de luxo da história a liderar o ranking – de 1984 a 1986.
Opala x Maverick
Eu não respeito carros de passeio que usem suspensão de carroça. Peguei pesado? Peguei. Mas cada vez que eu olho para a arquitetura da suspensão traseira do Ford Maverick, eu me certifico o quanto o Chevrolet Opala sempre foi uma opção melhor. O modelo da Ford chegou a ter versões com 4, 6 e 8 cilindros. Dizia-se até que o 6 cilindros, herança do arcaico motor Willys dos anos 50, gastava como o 8 cil… e andava feito o 4 cil.
O aclamado 302 V8 do Ford não parecia suficiente para vencer a disputa. Apesar dos dotes esportivos que marcaram uma geração, com cerca de 20 cv a mais que o 250-S da Chevrolet, o Maverick nunca conseguiu se impor frente ao Opala, tanto que foi produzido de 1973 a 1979, enquanto o Chevrolet estendeu-se de 1968 a 1992. Nem dá pra comparar. Vitória fácil do Opala. Quem diria… eu falando bem de Opala…
F1000 x D20
Tive uma F1000 Turbodiesel no início dos anos 90. Meu pai era pescador, daqueles que atravessavam o Estado de São Paulo nos finais de semana em busca de tucunarés nas represas do Rio Grande (divisa com Minas Gerais). Como ele tinha seu próprio motor de popa, mais as caixas de isopor e as tralhas todas de pescaria, fazia sentido ter uma jamanta dessas. Eu usava a picape durante a semana. Não era muito fã. Como não sou até hoje por qualquer picape (pra andar na cidade) que não tenha construção monobloco.
Sem muita convicção, eu diria que a F1000 ganha o comparativo. Basicamente eram veículos iguais, com a Ford levando certa vantagem por ter bitolas e entre-eixos maiores. Mas a Chevrolet costumava ter um handling melhor, mais aprimorado. A F1000 usava motores MWM e a D20 vinha de Perkins, mas foi substituído por unidades da Maxion no início dos anos 90. Ambas sempre foram muito parelhas. Voto na F1000, mas, repito, sem muita convicção.
Civic x Corolla
Nunca tive uma opção tão diferente da maioria. Claro que eu voto no Honda Civic. Mas é claro, também, que o Toyota Corolla vence esse comparativo. Maior prova disso é verificar qual dos dois continua firme e forte sendo produzido no Brasil, lembrando que ambos chegaram como importados em meados dos anos 90.
A decisão aqui depende de onde o consumidor está inserido. Você escolhe o Corolla se prioriza confiabilidade, conforto e design mais tradicional, isso ao longo das últimas décadas. Já a opção pelo Civic recai a quem valoriza um visual mais esportivo e maior prazer ao dirigir. Voto no Honda. Mas sabendo que sou minoria.
Aliás, não há como esquecer da versão VTi de 1993. Quatro Rodas comprou um desses carros para o teste de Longa Duração. Nós brigávamos diariamente na Redação para definir quem iria embora pra casa com ele. O tal do Civic VTi foi duramente exigido durante os 60 mil km que rodou com os jornalistas da revista. Foi desmontado e aprovado com louvor.
Scénic x Picasso
A melhor minivan entre Renault Scénic e Citroën Picasso… era Chevrolet Zafira. Mas ele não está em votação. E sim os dois de origem francesa, lançados praticamente ao mesmo tempo no Brasil, no final de década de 90.
Tive um Scénic. Era um dos primeiros, inclusive. Sou fã de minivans. Acho uma proposta inteligentíssima. Meu filho mais velho, hoje com 28 pra 29 anos, tinha 2 ou 3 anos e só andava na cadeirinha. Nada poderia ser mais prático do que um carro com bom ângulo de abertura de portas e assentos elevados, sem contar a ideia de ter os três bancos traseiros individuais, que corriam longitudinalmente em trilhos: eu movia o assento dele à frente, praticamente encostando a cadeirinha no banco da frente (do motorista). Nada podia deixá-la mais fixa e protegida. Ainda restava um ótimo espaço para alguma avó que eventualmente estivesse junto em um dos outros dois bancos. Era genial.
O Citroën também tinha esses mesmos adjetivos. Exótico, seu design parece ter feito ainda mais sucesso no país. Talvez por ter espaço interno mais generoso, algo que definia compra e era a própria razão de ser de minivans. Ele tinha 2,76 metros de entre-eixos contra 2,58 m da Scénic. De resto, ambos praticamente empatavam. O modelo da Renault teve motores 1.6 e 2.0 que variavam de 115 cv a 138 cv, enquanto a Picasso só vinha de 2.0, que começou com 118 cv, e passou a 138 cv em 2004. Vence o Citroën.
Esse texto não terminaria nunca. Ainda poderíamos falar de Galaxie x Dart, Tempra x Vectra, Saveiro x Strada, talvez até Fusca x 147. Me conte nos comentários quais outros duelos você assistiu no mercado brasileiro que poderiam entrar numa continuação dessa coluna.
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