Veículos antigos e de uso intensivo puxam emissões e agravam crise de qualidade do ar na Grande São Paulo
Análise com 323 mil medições revela poluição acima dos limites da OMS e reforça necessidade de retirar veículos antigos e eletrificar frotas
César Tizo - novembro 14, 2025
As emissões dos cerca de sete milhões de veículos que circulam diariamente pela Região Metropolitana de São Paulo continuam sendo o principal fator de deterioração da qualidade do ar e um risco direto à saúde pública. Segundo estudo conduzido pelo TRUE (The Real Urban Emissions) em parceria com a CETESB e com a CET, os níveis de poluentes como dióxido de nitrogênio (NO₂) e material particulado (MP) frequentemente superam as diretrizes recomendadas pela Organização Mundial da Saúde (OMS).
A pesquisa analisou 323 mil medições feitas entre maio e julho de 2024 em nove pontos da região, utilizando tecnologia de sensoriamento remoto para identificar emissões de monóxido de carbono (CO), hidrocarbonetos (HC), amônia (NH₃), óxidos de nitrogênio (NOₓ), fumaça por ultravioleta — indicador de MP — e emissões evaporativas.
Os resultados mostram que veículos mais antigos e categorias de uso intensivo estão no centro do problema. Automóveis com mais de 18 anos representam menos de 7% da amostra, mas são responsáveis pelos maiores índices de poluição, com emissões reais de gasolina da fase L3 do PROCONVE até 19 vezes acima dos limites de HC. Caminhões a diesel anteriores à fase P3 também se destacam negativamente: embora apenas 10% da amostra, emitem até 12 vezes mais material particulado que modelos mais novos.
Caminhões mais antigos emitem até 12 vezes mais material particulado do que modelos mais novos
Táxis e carros de aplicativo, que responderam por quase 30% das medições de automóveis de passeio, apresentaram emissões de HC, CO e NOₓ duas vezes superiores às dos veículos particulares. Já veículos de carga urbana, essenciais para a logística da última milha, mostraram NOₓ e MP quase 30% maiores que os caminhões usados em rotas de longa distância.
O estudo ainda identificou que alguns grupos certificados segundo a fase L6 do PROCONVE — como modelos com motores 1.0 da Fiat ou 1.8 da Chevrolet — exibiram emissões reais significativamente superiores aos limites, tanto no uso particular quanto em operação como táxi ou aplicativo.
Entre as recomendações, o relatório destaca a necessidade de retirar gradualmente de circulação os veículos mais antigos e poluentes, promover a eletrificação de frotas de alta utilização, como táxis e caminhões leves, atualizar o PROCONVE com base em dados reais e implantar um programa nacional de inspeção veicular. A pesquisa também ressalta que fatores ambientais, como a alta incidência de luz solar e temperaturas elevadas, agravam a formação de ozônio troposférico (O₃) e tornam o desafio ainda maior.
Para a CETESB, os dados obtidos reforçam a urgência de novas políticas públicas. “Apesar dos esforços realizados ao longo dos anos, novas ações ainda são necessárias para reduzir o impacto da frota circulante sobre a qualidade do ar”, afirmou Maria Helena Martins, diretora de Qualidade Ambiental do órgão.
O ICCT, parceiro técnico do estudo, também destaca o caráter estratégico das conclusões. “Os resultados serão fundamentais para desenvolver ações efetivas voltadas à redução de emissões e à melhoria da qualidade do ar”, disse Marcel Martin, diretor-geral do ICCT Brasil.
A FIA Foundation, parceira da iniciativa TRUE, reforça que o enfrentamento precisa ser amplo e incluir tanto renovação da frota quanto medidas estruturais. “Há urgência em agir sobre os veículos mais poluentes e de uso intensivo, ao mesmo tempo em que é necessário avançar na eletrificação e no monitoramento nacional da frota”, afirmou Sheila Watson, vice-diretora da entidade.
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