Marca italiana faz movimento inédito ao converter o 500e em um micro-híbrido; confira se o resultado ficou interessante
César Tizo - dezembro 19, 2025
Após apostar todas as fichas na eletrificação total do Fiat 500, a marca italiana decidiu dar um passo atrás ao enfrentar um colapso nas vendas do hatch na Europa e promoveu um movimento inédito: transformar um carro originalmente elétrico em um modelo híbrido a combustão. Assim nasceu o novo Fiat 500 Hybrid, avaliado pela revista britânica Autocar e já tratado internamente pela Fiat como peça-chave para a recuperação da fábrica de Mirafiori, em Turim.
O antigo 500 a gasolina saiu de linha em 2024, pressionado por exigências regulatórias da União Europeia, especialmente ligadas à cibersegurança. A expectativa era que o 500e assumisse o protagonismo, mas o preço elevado e as limitações de uso típicas de um elétrico urbano afastaram compradores tradicionais do modelo, que migraram para rivais a combustão, como Kia Picanto e Toyota Aygo X. O resultado foi dramático: meses sem produção, trabalhadores afastados e estoques encalhados.
No Brasil, a Fiat ainda enfrenta dificuldades para comercializar unidades do 500e modelo 2022, que permanecem em estoque há cerca de três anos e seguem listadas no site oficial da marca pelo preço de R$ 214.990.
Olhando em retrospectiva, o próprio chefe da Fiat na Europa, Gaetano Thorel, classificou a estratégia de migração total do 500 para a propulsão elétrica como um “suicídio”. A solução para o problema veio na forma do 500 Hybrid, que permitiu unificar a produção de versões elétricas e a combustão na mesma linha e devolver fôlego industrial à marca.
Tecnicamente, a conversão exigiu profundas alterações no projeto do 500e. Novos subchassis foram instalados para acomodar o motor a combustão, o câmbio manual de seis marchas e o tanque de combustível, que substitui a bateria de tração. O conjunto escolhido foi o conhecido motor 1.0 aspirado de três cilindros com sistema híbrido leve de 12V, já utilizado no antigo 500 Hybrid e no Panda. Ele entrega 64 cv e cerca de 9,4 kgfm de torque, números modestos, mas suficientes para o uso urbano ao qual o modelo sempre se propôs.
No uso diário, segundo a Autocar, o novo 500 Hybrid se mostra fácil de conduzir na cidade, com boa resposta em baixas rotações e rodar mais maduro do que o antigo 500 a combustão, beneficiado pela base estrutural do 500e. Em contrapartida, o desempenho em vias rápidas decepciona: a aceleração de 0 a 100 km/h passa dos 16 segundos, e retomadas exigem frequentes reduções de marcha. Não é um carro pensado para rodovias, e tampouco tenta disfarçar isso.
Por dentro, o modelo preserva praticamente todo o ambiente do 500 elétrico, com painel digital, central multimídia de 10,25 polegadas compatível com Android Auto e Apple CarPlay sem fio e uma percepção de qualidade superior à da geração anterior. Ainda assim, o espaço segue limitado, o acesso ao banco traseiro é ligeiramente facilitado na carroceria com três portas e a visibilidade não é um ponto forte.
O consumo também gerou ressalvas. Embora o 500 Hybrid deva figurar entre os carros mais baratos e econômicos do Reino Unido, ele é menos eficiente do que o antecessor, reflexo do aumento de peso herdado da plataforma originalmente elétrica. Na prática, o consumo médio ficou abaixo do de rivais eletrificados mais modernos, o que torna o uso do termo “Hybrid” mais uma solução de marketing do que um diferencial técnico relevante.
Apesar das críticas, a avaliação geral é de que o Fiat 500 Hybrid cumpre bem seu papel estratégico. É um produto coerente para quem busca um carro urbano charmoso, fácil de dirigir e livre das limitações de um elétrico puro, ainda que não empolgue em desempenho ou eficiência absoluta. Para a Fiat, mais do que um lançamento, ele representa uma tentativa de reconquistar clientes perdidos e estabilizar sua operação europeia.
Por enquanto, porém, não há previsão de oferta do Fiat 500 Hybrid no mercado brasileiro. Aqui, o modelo ficou marcado em sua geração anterior por uma fase mais acessível quando importado do México e, mais recentemente, por sua reestreia elétrica com preços elevados.
O novo 500 Hybrid mostra que, ao menos na Europa, a Fiat voltou a ouvir o mercado — ainda que isso tenha exigido quebrar paradigmas e voltar atrás em uma aposta considerada, agora, precipitada.
