Do motor a ar herdado do Fusca à injeção eletrônica, do GT ao GTi e do flex ao turbo, o Volkswagen Gol construiu uma trajetória única na indústria automotiva brasileira
César Tizo - dezembro 29, 2025
Apresentado oficialmente à imprensa em 15 de maio de 1980, o Volkswagen Gol chega aos 45 anos como o automóvel nacional com mais história para contar. Líder de vendas por décadas, referência técnica para concorrentes e protagonista de transformações profundas no mercado, o hatch se consolidou como o carro mais produzido, vendido e exportado da história da indústria automotiva brasileira. Mais do que números, o Gol ajudou a moldar hábitos, gostos e até linguagens do consumidor nacional.
O nascimento foi modesto, mas decisivo. Lançado nas versões básica e L, com motor 1.3 a ar de 42 cv, derivado do Fusca, o Gol ocupava um espaço estratégico entre o Brasília e o Passat. Pouco tempo depois, em 1981, vieram as versões S e LS, já com motor 1.6 também a ar, dupla carburação e 51 cv. Em 1982, o modelo ganhou uma de suas primeiras séries especiais, o Gol Copa, criado em homenagem ao Mundial da Espanha e hoje tratado como peça rara entre colecionadores.
A aura esportiva começou a se consolidar em 1984, com o lançamento do Gol GT. Foi ali que o modelo inaugurou a era dos motores refrigerados a água na linha, estreando o 1.8 de 99 cv que mais tarde equiparia o Santana. O GT abriu caminho para uma linhagem de esportivos nacionais que marcaria época e ajudaria a construir a imagem do Gol como carro desejável, não apenas racional.
A metade dos anos 1980 trouxe evolução estética e técnica. Em 1985, o Gol adotou a dianteira do Voyage e da Parati nas versões com motor a água. No ano seguinte, surgia o lendário motor AP, sinônimo de robustez e desempenho. Já em 1987, o hatch passou por uma profunda reestilização, com novos faróis, lanternas, para-choques mais envolventes e uma nova lógica de versões: C, CL e GL. O GT dava lugar ao GTS, enquanto o Gol, com apenas sete anos de mercado, assumia a liderança absoluta de vendas no Brasil.
O ápice tecnológico viria em 1988, no Salão do Automóvel. Ali, o Gol GTi se tornou o primeiro carro nacional equipado com injeção eletrônica. Com motor 2.0 de 120 cv, aceleração de zero a 100 km/h abaixo dos nove segundos e desempenho inédito para a categoria, o GTi redefiniu o conceito de esportivo no país e se transformou em um dos modelos mais cultuados da história do automóvel brasileiro.
Nos anos 1990, o Gol seguiu evoluindo em acabamento e design, ao mesmo tempo em que protagonizou o surgimento da categoria dos motores 1.0, com o emblemático Gol 1000. Em 1993, alcançou a marca de 1 milhão de unidades vendidas. No ano seguinte, o Gol Copa reapareceu, agora celebrando o Mundial dos Estados Unidos, e marcou a despedida da primeira geração. Em setembro de 1994, estreava a segunda geração, rapidamente apelidada de “bolinha”.
A trajetória seguiu marcada por pioneirismos. Em 2001, o Gol ultrapassou o Fusca ao atingir 3,2 milhões de unidades comercializadas. No início dos anos 2000, apresentou o motor 1.0 turbo, depois inaugurou a revolução dos carros flex, em 2003, e passou por mudanças estruturais importantes com o G5, em 2008, ao adotar a plataforma PQ25. Em 2014, após 27 anos consecutivos no topo do ranking de vendas, o modelo deixou a liderança do mercado, mas manteve relevância até sua despedida definitiva.
Encerrada a produção após 42 anos ininterruptos na fábrica de Taubaté (SP), o Gol se despediu com a série limitada Last Edition, criada para homenagear o carro mais emblemático da história da Volkswagen no Brasil. Hoje, seu legado é preservado na Garagem Volkswagen, onde exemplares históricos ajudam a contar essa trajetória, do primeiro 1300 L com placa preta ao Gol GTi, passando por conceitos, séries especiais e modelos que simbolizam diferentes fases da indústria nacional.
Ao completar 45 anos, o Gol permanece vivo na memória afetiva dos brasileiros. Não apenas como um automóvel de sucesso, mas como um retrato fiel da evolução tecnológica, econômica e cultural do Brasil sobre quatro rodas.
