Mesmo com sobretaxas, marcas chinesas manterão lucros elevados na Europa
Análise realizada após a divulgação de novas tarifas impostas pela Comissão Europeia escancaram as margens robustas dos carros elétricos chineses
César Tizo - junho 13, 2024
Mesmo com a iminente imposição de tarifas compensatórias pela Comissão Europeia, que devem variar entre 15% e 30%, marcas chinesas de veículos elétricos como BYD, Geely e SAIC ainda poderão lucrar consideravelmente no mercado europeu. A constatação é de uma análise aprofundada feita pelo Rhodium Group e divulgada recentemente.
Essas tarifas, destinadas a proteger a indústria automotiva europeia dos efeitos prejudiciais dos subsídios chineses, podem não ser suficientemente altas para neutralizar a vantagem competitiva dessas empresas, aponta o relatório.
Vantagens de custo e lucros robustos
A principal razão para a resiliência das marcas chinesas diante das novas tarifas é a significativa vantagem de custo que elas possuem. A produção de veículos elétricos na China é impulsionada por custos mais baixos de mão de obra e energia, além de um ecossistema de baterias altamente desenvolvido e subsídios governamentais robustos. Esses fatores permitem que os fabricantes chineses produzam veículos a preços consideravelmente mais baixos do que os concorrentes europeus.
Por exemplo, a BYD, uma das principais montadoras chinesas, obtém cerca de € 14.300 de lucro, aproximadamente R$ 83 mil, por cada modelo Seal U vendido na Europa, comparado a apenas € 1.300 (pouco mais de R$ 7,5 mil) por unidade vendida na China. Mesmo com uma tarifa de 30%, a BYD ainda manteria um “prêmio europeu” de aproximadamente € 4.700 (R$ 27,5 mil) por veículo, tornando as exportações para a Europa extremamente lucrativas.
Tabela elaborada pelo Rhodium Group mostra a discrepância de valores entre os preços praticados na China e na Europa, no caso usando como exemplo o mercado alemão
Tarifa insuficiente para equilibrar o mercado
Para que as tarifas realmente tornem o mercado europeu menos atraente para as marcas chinesas, seria necessário um aumento substancial das tarifas, possivelmente na faixa de 40% a 50%. No entanto, essas tarifas são consideradas improváveis devido às implicações econômicas e políticas. Sem essa elevação, as montadoras chinesas continuam com espaço para ajustar seus preços e estratégias de mercado, mantendo uma presença forte e competitiva na Europa.
Além disso, marcas como a BYD têm a flexibilidade de reduzir seus preços para ganhar participação de mercado, dado que suas margens de lucro são suficientemente altas para absorver parte das tarifas impostas. Isso poderia levar a uma guerra de preços que prejudicaria ainda mais os fabricantes europeus.
O futuro do mercado de EVs na Europa
As tarifas de 15-30%, embora um passo na direção de equilibrar o campo de jogo, podem não ser suficientes para frear o impulso das montadoras chinesas no mercado europeu de veículos elétricos. Com uma vantagem de custo robusta e estratégias adaptáveis, as marcas chinesas continuarão a buscar e explorar oportunidades lucrativas na Europa, desafiando a indústria automotiva local a inovar e competir em um cenário cada vez mais globalizado. O mesmo, sem dúvida, também poderá ocorrer no Brasil.