Concorrência desleal na importação de pneus ameaça indústria brasileira, aponta estudo
ANIP alerta para os riscos de desindustrialização e demissões diante da entrada de pneus com preços até 69% menores do que no mercado internacional
César Tizo - agosto 8, 2024
A indústria brasileira de pneus enfrenta um desafio crescente com a entrada de produtos importados a preços deslealmente baixos, segundo um estudo realizado pela LCA Consultoria Econômica para a Associação Nacional da Indústria de Pneumáticos (ANIP). O levantamento revela que, em 2023, os pneus de carga importados chegaram ao Brasil por um valor médio de US$ 2,9 por quilo, enquanto no mercado internacional o preço médio foi de US$ 4,2 por quilo.
Essa diferença de preços coloca o Brasil em uma posição vulnerável no cenário global, com o país sendo alvo de pneus importados a valores significativamente inferiores aos praticados em mercados como Estados Unidos, México e França. O estudo aponta que, em alguns casos, os preços dos pneus importados no Brasil são até 69% menores do que a média internacional.
A situação é especialmente crítica para os pneus de passeio, que em 2023 foram comercializados internacionalmente a US$ 5,7 por quilo, mas chegaram ao Brasil por apenas US$ 3,2 por quilo. A ANIP destaca que essa distorção é resultado da falta de barreiras tarifárias de proteção, o que tem permitido a entrada indiscriminada de pneus, principalmente de origem asiática, no mercado brasileiro.
Klaus Curt Müller, presidente executivo da ANIP, alerta para os impactos negativos dessa concorrência desleal na cadeia produtiva local. “A falta de proteção tarifária está afetando não apenas a indústria de pneus, mas também produtores de borracha, têxteis, produtos químicos e aço, insumos essenciais na fabricação de pneus”, afirma Müller.
Entre 2021 e 2023, enquanto países como EUA, México e nações europeias adotaram medidas tarifárias para proteger suas indústrias, o Brasil permaneceu sem ações similares. Nos Estados Unidos, por exemplo, foram estabelecidas taxas compensatórias contra as importações chinesas, variando de 25% a 125%, além da renovação de medidas antidumping que reduziram as importações chinesas de pneus em 30,5% em 2022.
Em resposta ao cenário crítico, a ANIP solicitou em outubro de 2023 à Secretaria Executiva da Câmara de Comércio Exterior (Camex) a elevação transitória da Tarifa Externa Comum (TEC) de 16% para 35% sobre pneus de passeio e de carga, por um período de 24 meses. A medida visa restabelecer o equilíbrio do mercado e evitar um colapso na indústria nacional.
“É absolutamente impossível competir com produtos que chegam ao país com valores inferiores ao custo da matéria-prima”, enfatiza Müller. Atualmente, o Brasil abriga 11 fabricantes de pneus, com 21 plantas industriais espalhadas por sete estados, responsáveis pela venda de 52 milhões de unidades no mercado local em 2023. Essas indústrias empregam diretamente 32 mil trabalhadores e geram 500 mil postos de trabalho indiretos.
A ANIP ressalta que o setor está em risco iminente de desindustrialização. “Hoje, temos 2.500 trabalhadores parados aguardando para voltarem aos seus postos de trabalho, e o temor é que isso possa não acontecer”, conclui Müller. A organização defende que medidas urgentes são necessárias para proteger a indústria nacional e garantir a continuidade dos empregos no setor.
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