Volkswagen avalia retorno ao setor militar em meio a desafios geopolíticos
Montadora alemã sinaliza disposição para auxiliar no desenvolvimento de veículos blindados, enquanto enfrenta riscos com novas tarifas nos EUA
César Tizo - março 13, 2025
A Volkswagen pode estar prestes a ampliar sua atuação no setor de defesa, à medida que a Europa intensifica investimentos militares em resposta a um cenário geopolítico cada vez mais tenso. Durante a conferência anual de resultados da empresa, realizada na última quarta-feira (12) em Wolfsburg, o CEO Oliver Blume afirmou que a companhia está aberta a auxiliar outras montadoras no desenvolvimento de veículos blindados.
A declaração surge no contexto de um esforço coordenado da União Europeia para fortalecer suas forças armadas. Bruxelas anunciou recentemente um ambicioso plano de US$ 840 bilhões para ampliar a capacidade militar do bloco, um reflexo da instabilidade causada pelo corte do apoio militar dos Estados Unidos à Ucrânia, após um desentendimento entre o presidente Donald Trump e o líder ucraniano Volodymyr Zelensky. Com isso, países europeus aumentaram seus orçamentos de defesa, o que pode abrir novas oportunidades para fornecedores de tecnologia e veículos militares.
Tarifas dos EUA podem afetar negócios
Além da conjuntura militar, a Volkswagen também enfrenta desafios comerciais que podem impactar suas operações globais. O governo dos EUA avalia impor novas tarifas sobre veículos importados do México, Canadá e da União Europeia, o que pode afetar diretamente as exportações da montadora alemã. Mesmo após um 2024 financeiramente positivo, a empresa se prepara para um ano difícil, considerando os riscos tarifários e a desaceleração de alguns mercados.
A empresa já tem envolvimento no setor de defesa por meio da MAN Truck & Bus, sua subsidiária, que mantém contratos para o desenvolvimento de veículos militares em parceria com a Rheinmetall AG. Apesar de ainda não haver negociações concretas para ampliar essa participação, o interesse demonstrado por Blume indica que a Volkswagen pode buscar expandir sua presença nesse segmento caso a conjuntura econômica e política exija novas estratégias de negócios.
Histórico militar da Volkswagen
O envolvimento da Volkswagen com veículos militares não é novidade. Durante a Segunda Guerra Mundial, a companhia produziu modelos como o Kübelwagen, utilizado pelo exército alemão. Já no pós-guerra, a montadora desenvolveu o Type 181 para as forças armadas da Alemanha Ocidental, um modelo que mais tarde ficou conhecido nos mercados civil britânico e norte-americano como “The Thing”.
Agora, com o aumento da demanda por veículos militares na Europa, a montadora pode reviver essa experiência para atender ao novo cenário de defesa. Friedrich Merz, líder do partido CDU e apontado como possível próximo chanceler da Alemanha, já sinalizou que está disposto a ampliar os investimentos em defesa do país, o que pode criar um ambiente favorável para a entrada de fabricantes automotivos no setor militar.
Embora ainda não haja definições concretas sobre o retorno da Volkswagen à fabricação de veículos blindados em larga escala, a sinalização da empresa reflete um momento de transformações significativas na indústria automotiva e no cenário global. Com tarifas ameaçando a competitividade do setor e investimentos militares em alta, a empresa pode ter que equilibrar suas decisões estratégicas entre os desafios comerciais e as novas oportunidades que surgem no horizonte.
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