Nova crise dos chips? China endurece controle sobre terras raras e acende alerta na indústria
Suspensão de exportações estratégicas por Pequim pode desencadear nova crise de semicondutores; Brasil tem chance, mas carece de estrutura para aproveitar
César Tizo - abril 16, 2025
A decisão do ex-presidente Donald Trump de recuar, ao menos temporariamente, da aplicação de tarifas sobre automóveis e componentes importados dos principais parceiros comerciais trouxe alívio para a cadeia global de suprimentos. No entanto, a reação da China — com a suspensão da exportação de terras raras e ímãs críticos — pode desencadear um novo episódio de escassez de semicondutores, segundo avaliação da consultoria Mirow & Co.
Em retaliação às medidas comerciais dos EUA, o governo chinês restringiu a venda de insumos estratégicos usados por indústrias automobilísticas, aeroespaciais, militares e de tecnologia de ponta. Como detém cerca de 93% do mercado global de refinamento de terras raras, a China possui posição dominante em uma cadeia essencial para a produção de motores elétricos, direção elétrica, catalisadores e semicondutores — componentes amplamente utilizados nos veículos modernos.
“Componentes que contêm as chamadas ‘terras raras’ são especialmente críticos”, afirma Michael Münch, sócio-associado da Mirow & Co. especializado na indústria automotiva. Ele explica que a complexidade logística da cadeia automobilística — na qual uma peça pode passar por três a cinco fornecedores ao redor do mundo — torna o setor extremamente vulnerável a rupturas geopolíticas.
Segundo Münch, o recuo dos EUA é, na prática, o reconhecimento de que a indústria não tem como se adaptar instantaneamente a mudanças profundas no cenário político-econômico. A imposição das tarifas, afirma, poderia interromper fábricas inteiras, como já foi observado em algumas unidades no México, diante da incerteza e impossibilidade de planejamento.
No entanto, o fôlego proporcionado por essa trégua pode ser curto. “A médio e longo prazos, tudo dependerá do grau de escalada da tensão com Pequim”, analisa Münch. “A China parece preparada para sustentar uma guerra comercial prolongada e retaliar os EUA com medidas que podem impactar diretamente a produção global, em um nível comparável à crise dos semicondutores entre 2020 e 2023.”
Brasil pode ganhar espaço — mas precisa correr
No contexto brasileiro, o recuo da tarifação americana reduz a pressão imediata sobre as montadoras com operação no país, evitando mudanças abruptas nos investimentos já planejados. Também mantém aberta a janela para a importação de carros elétricos chineses com tarifa reduzida até julho de 2026, o que pode ser explorado estrategicamente por fabricantes globais.
Entretanto, uma eventual escassez prolongada de semicondutores — como reflexo da restrição chinesa às exportações — poderia abrir espaço para o Brasil se posicionar como fornecedor alternativo. O país possui a terceira maior reserva mundial de terras raras. “Mas isso exigiria não só investimento em mineração, como também em capacidade de refinamento, algo que hoje praticamente inexiste por aqui”, alerta Münch.
Com matriz energética renovável e posicionamento neutro no xadrez geopolítico, o Brasil poderia ser incluído nas estratégias de‘near and friendly shoring’ — priorização de países com relações comerciais confiáveis para mitigar riscos de fornecimento. “Mas até lá, seria ainda um longo e árduo caminho”, conclui o especialista.
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