De documentação falsa a problemas ocultos: os cuidados ao negociar um carro usado
Vendas de usados aumentaram 7% no primeiro bimestre de 2025; especialistas alertam para riscos e dão dicas para fechar bons negócios sem cair em armadilhas
César Tizo - maio 16, 2025
O mercado de veículos usados e seminovos segue ganhando fôlego no Brasil, impulsionado pelos altos preços dos modelos zero-quilômetro. Somente nos dois primeiros meses de 2025, as vendas cresceram 7% em relação ao mesmo período do ano passado, ultrapassando a marca de 2,5 milhões de unidades comercializadas. Com os modelos mais acessíveis do mercado partindo de cerca de R$ 75 mil, a busca por alternativas mais baratas tem se intensificado, especialmente diante da memória recente de modelos populares custando em torno de R$ 25 mil há uma década.
Apesar de representar uma saída viável para quem deseja trocar de carro sem comprometer o orçamento, a compra de um usado também esconde riscos que podem se transformar em prejuízo. Avaliar bem o veículo antes de fechar negócio é fundamental, alerta o CEO da Auto Avaliar, J.R. Caporal. “Nem todo carro com preço atrativo representa uma boa compra”, afirma.
O primeiro passo é pesquisar a reputação do modelo desejado, seus custos de manutenção, valor de seguro, disponibilidade de peças e nível de desvalorização. A opinião de outros proprietários pode ser útil, sobretudo no que diz respeito a consumo de combustível e eventuais defeitos crônicos. Sites especializados, fóruns e plataformas de venda podem ajudar nessa etapa.
Além disso, o histórico do carro precisa ser cuidadosamente verificado: estado geral de conservação, documentação regularizada, existência de sinistros, passagem por leilão, perda total ou indícios de clonagem. “Peça o número do chassi para consultar o histórico do carro e utilize plataformas confiáveis para identificar problemas ocultos”, recomenda Caporal.
Na hora da compra, adquirir o veículo em concessionárias ou lojas confiáveis pode oferecer maior segurança jurídica, já que o Código de Defesa do Consumidor garante ao comprador 90 dias de cobertura para eventuais defeitos. Esses estabelecimentos também costumam entregar os veículos revisados e higienizados.
Verifique se o histórico de manutenção do veículo está em dia
Para quem decide negociar diretamente com o proprietário em busca de preços mais baixos, os cuidados devem ser redobrados. “Existem muitos vendedores mal-intencionados que escondem defeitos graves ou sequer entregam o carro”, alerta Caporal. A recomendação é nunca pagar antecipadamente sem garantias formais.
O ideal é levar o veículo para uma avaliação com mecânico de confiança ou empresa especializada. Deve-se verificar sinais de repintura, soldas na estrutura, desgaste excessivo para a quilometragem, ferrugem, funcionamento do sistema elétrico e eletrônico, estado dos pneus, e se portas e vidros operam corretamente. Um test drive é imprescindível para checar ruídos, comportamento da suspensão, funcionamento dos freios, do câmbio e do motor. Mesmo o aspecto do óleo pode indicar se a manutenção foi feita com regularidade.
Outro cuidado importante é verificar indícios de adulteração no hodômetro. Comparar o desgaste de componentes como volante, pedais e bancos com a quilometragem indicada pode ajudar a identificar irregularidades.
Caporal também reforça a importância da negociação bem embasada. “Use as informações que você reuniu para propor um valor justo, e não tenha receio de fazer uma oferta abaixo do pedido. Se o vendedor não aceitar, siga em frente — a pressa é inimiga de uma boa compra”, orienta. Formalizar tudo por escrito, com contrato assinado e firma reconhecida, é outra etapa essencial. O pagamento deve ocorrer somente após a verificação completa do veículo e das condições legais da transação.
Quem optar por financiar também precisa ficar atento às taxas de juros. “Sempre que possível, prefira pagar à vista, o que pode aumentar seu poder de barganha”, recomenda o executivo. E, por fim, desconfie de preços muito baixos. “Se a oferta parecer boa demais para ser verdade, pode ser golpe”, conclui Caporal.