Marcelo Cavalcante | Polo desbanca Strada em junho, mas picape liderou no 1º semestre

Consultor Marcelo Cavalcante de Lima apresenta análise sobre o mercado automotivo brasileiro no fechamento de junho e também do primeiro semestre de 2025:

O setor de automóveis e comerciais leves encerrou o mês de junho com 202.128 unidades vendidas. Esse volume representa uma queda de 5,72% em relação ao mês anterior. Na comparação com o mesmo período de 2024, as vendas recuaram 0,17%.

O mês teve 20 dias úteis, com média diária de 1.106 unidades — resultado 1% inferior ao de maio. O desempenho fraco na segunda quinzena acendeu um sinal de alerta para o setor. Este foi o segundo mês do semestre em que 2024 superou o desempenho do ano atual.

No acumulado do ano, foram vendidos 1.131.277 veículos, o que representa um crescimento de 5,04% em relação a 2024. Comparado ao ciclo pré-pandemia, no entanto, o setor ainda registra uma retração de 9,42%, indicando que o mercado segue distante dos números de 2019.

As vendas no varejo somaram 97.131 unidades em junho, com participação de 48,05% — queda de 4,42% frente a maio. Em relação a junho de 2024, o recuo foi de 7,43%.

As vendas diretas totalizaram 104.997 unidades, com participação de 51,95%. Na comparação com o mês anterior, houve queda de 6,89%, o primeiro resultado negativo do ano. Já em relação a junho de 2024, a modalidade — que inclui vendas para locadoras, empresas, frotistas, PcDs e taxistas — cresceu 7,63%.

No acumulado do semestre, o varejo vendeu 571.924 unidades, recuo de 1,64% na comparação anual. Já as vendas diretas somaram 559.348 unidades, com expressivo crescimento de 12,88%, deixando claro que o setor segue alavancado por essa modalidade.

Em 2024, o varejo encerrou o ano com 1.266.021 veículos vendidos — volume inferior ao de 2016. Já as vendas diretas fecharam o ano com 1.218.837 unidades, estabelecendo um recorde histórico para o atacado.

Avaliação dos concessionários

• André Scinocca, operador no Grupo Dahruj, relatou que a primeira quinzena foi positiva para todas as marcas do grupo, mas a segunda metade do mês perdeu força. Parte da retração é atribuída ao mau humor do mercado com o aumento da Selic. Apesar de o volume ter sido atingido, as margens foram comprometidas.
  
• Marcos Antônio Ribeiro Mota, do Grupo Motauto (Fiat e Nissan), afirmou que junho foi positivo, superando o desempenho de maio.
  
• Jerdean Barbosa, gerente de Pós-Vendas da BMW do Grupo Barigui, relatou estabilidade nas vendas, mas queda nas margens.
  
• Marcos Apolineo, gerente geral de Pós-Vendas do Grupo BEXP (Audi, Jeep e Porsche), apontou desempenho abaixo das projeções.
  
• Helder Galvão de Castro, do Grupo Andreta (seis concessionárias Hyundai), informou estabilidade em relação a maio.
  
• Marcelo Freire, diretor-geral do Grupo Iguauto (Fiat), disse que as vendas ficaram abaixo das projeções de junho.

De forma geral, os relatos apontam queda nas vendas na segunda quinzena e necessidade de concessões nas margens para manter o ritmo dos negócios.

Mercado de eletrificados

A prévia de junho aponta 21.300 unidades eletrificadas vendidas — queda de 4,39% frente a maio. No acumulado do semestre, o segmento soma 114.155 unidades, crescimento de 44% em relação ao mesmo período de 2024. Excluindo a Fiat (que começou a atuar nesse mercado em novembro), o crescimento seria de 18,78%.

Os modelos híbridos plug-in seguem na liderança, com 41.604 unidades no semestre, avanço de 84,49%. Em junho, foram 7.263 unidades, com queda pelo segundo mês consecutivo.

Os 100% elétricos fecharam junho com recuo de 15,20%. No acumulado, somam 30.567 unidades, queda de 1,95% na comparação anual.

Os híbridos-leves, impulsionados pela Fiat, completaram seis meses de crescimento, totalizando 28.202 unidades (+215%).

Já os híbridos puros sofreram com a baixa oferta e fecharam o semestre com 13.782 unidades, queda de 17%. A expectativa é de recuperação no segundo semestre com a chegada de novos modelos.

Uma análise específica sobre os eletrificados será publicada em artigo separado.

Ranking de marcas

O primeiro semestre terminou abaixo das projeções iniciais, mesmo com os impactos das enchentes no RS em 2024. A expectativa é de retomada no segundo semestre, que terá mais de 50 lançamentos.

• Fiat: encerrou o semestre com 241.422 unidades (+9,39%), crescimento de 20.733 unidades. Em relação ao ciclo pré-pandemia, avanço de 40,83%. Em junho, a marca vendeu 41.834 veículos (-9,25%). Suas vendas foram 68% via vendas diretas. A participação de mercado no semestre foi de 21,34%.
  
• Volkswagen: vendeu 185.377 unidades (+10,58%, ou +17.741 unidades). Em relação ao ciclo pré-pandemia, variação negativa de apenas 0,29%. Em junho, foram 37.050 unidades, estáveis ante maio. Vendas diretas representaram 64%. A participação de mercado no semestre foi de 16,39%.
  
• Chevrolet (GM): ficou na terceira posição, com 119.848 unidades (-15%). Comparada ao ciclo pré-pandemia, queda de 46% (-102.191 unidades). Em junho, vendeu 21.821 veículos (+1,48%).

O desempenho de junho ficou abaixo do esperado, afetado pelo aumento dos juros, um dia útil a menos e o pós-feriado de Corpus Christi (sexta-feira). Até os eletrificados enfrentaram dificuldades, não por falta de promoções, mas de estoque para vendas diretas. O semestre encerrou 1% abaixo das modestas projeções. Ainda faltam dados de produção, importação e exportação, que serão divulgados até 10 de julho.

Ranking de modelos

O Volkswagen Polo surpreendeu no último dia útil e garantiu a liderança de junho com 11.492 unidades (-11% ante maio). No acumulado, soma 57.216 unidades, ocupando a segunda posição (-1,12%).

A Fiat Strada ficou em segundo lugar no mês (11.474 unidades, -3,21%) mas lidera o semestre com 62.702 unidades (+10,79%).

O Volkswagen T-Cross, líder entre os SUVs, fechou junho em terceiro no ranking com 8.629 unidades (-8,30%). No semestre, já soma 44.532 unidades, crescimento de 41,29%.