Uso do celular se torna a “nova embriaguez” ao volante: prática mata 150 por dia
Uso do dispositivo ao volante se torna a “nova infração do bafômetro” e responde por 150 mortes diárias
César Tizo - setembro 10, 2025
O uso de celular ao volante se tornou uma epidemia no trânsito brasileiro, com crescimento alarmante de 16,3% nas multas por “segurar” o aparelho e 13,2% por “manuseá-lo” até novembro de 2024, segundo dados do Ministério dos Transportes. A prática, que já ocupa a terceira posição entre as principais causas de morte no trânsito nacional, é responsável por cerca de 150 óbitos diários e 54 mil mortes anuais nas rodovias brasileiras.
Para o advogado especialista em trânsito Walber Pydd, os números confirmam que o celular assumiu o mesmo protagonismo que a embriaguez tinha anteriormente. “A chamada ‘nova infração do bafômetro’ não é apenas um problema estatístico, mas uma ameaça concreta à vida. A distração causada pelo uso do aparelho é imediata e retira totalmente a atenção do condutor“, explica.
Dados alarmantes
Em Curitiba, os números locais evidenciam a gravidade da situação: foram registradas 15.813 infrações por dirigir segurando celular em 2024, e apenas nos primeiros seis meses de 2025, já são 6.408 autuações. Nacionalmente, mais de 240 condutores são multados por hora pelo uso do dispositivo ao volante, segundo o Portal do Trânsito.
A Associação Brasileira de Medicina de Tráfego (Abramet) confirma que o uso do celular ao volante só perde para o excesso de velocidade e consumo de álcool entre as causas de mortes no trânsito brasileiro.
Impacto devastador
Estudos de segurança viária revelam que digitar mensagens ao volante aumenta em até 400% o risco de acidentes. Uma pesquisa da britânica RAC Foundation mostrou que enviar mensagens reduz o tempo de reação do motorista em 35%, comprometendo sua capacidade de reagir a emergências.
Além da distração visual, o uso do celular pode levar à perda completa de controle do veículo, resultando em desvios de faixa, frenagens bruscas e colisões. Quando o motorista se concentra na tela, perde a percepção dos movimentos do carro e do ambiente ao redor.
Penalidades rigorosas
A legislação brasileira trata o uso de celular como infração gravíssima. O artigo 252 do Código de Trânsito Brasileiro, alterado pela Lei 13.281/2016, prevê multa de R$ 293,47 e perda de sete pontos na CNH para quem segurar ou manusear o telefone ao dirigir.
“Muitos motoristas acreditam que só serão multados se estiverem falando ou digitando, mas o simples ato de segurar o celular já caracteriza infração. Dirigir exige atenção plena e ambas as mãos disponíveis“, esclarece Pydd.
A legislação também prevê infração média (R$ 130,16 e quatro pontos) para usar o telefone falando, inclusive com fones de ouvido. Importante ressaltar que mexer no celular durante congestionamentos ou em semáforos também configura infração.
Suspensão da CNH
O impacto na pontuação é especialmente grave desde a Lei 14.071/2020. O motorista pode ter a CNH suspensa com apenas 20 pontos se tiver duas ou mais infrações gravíssimas, 30 pontos com uma gravíssima, ou 40 pontos sem nenhuma.
“Uma única multa por celular pode comprometer todo o histórico do condutor, especialmente para motoristas profissionais, com consequências diretas no trabalho e sustento“, alerta o advogado.
Fiscalização tecnológica
A fiscalização tem se tornado cada vez mais rigorosa e tecnológica. Diversas capitais e rodovias federais já utilizam videomonitoramento, câmeras de alta resolução e inteligência artificial para flagrar motoristas. Operações da Polícia Rodoviária Federal registraram aumento de mais de 500% nas autuações após a adoção de sistemas de monitoramento inteligente.
“O cerco está se fechando. Hoje não é mais necessário contato físico do agente para constatar a infração. As imagens gravadas servem como prova, tornando praticamente impossível esconder o uso do celular ao volante“, destaca Pydd.
Comparação internacional
A preocupação não é exclusiva do Brasil. Em Buenos Aires, ser flagrado usando celular pode gerar multa superior a 120 mil pesos argentinos (cerca de R$ 2.000). “A comparação internacional mostra uma tendência global de tolerância zero com a distração ao volante“, observa o especialista.
Recomendações de segurança
Para os motoristas, as orientações são claras: o celular deve permanecer fora de uso durante a condução. Recursos como “não perturbe ao dirigir” ajudam a reduzir tentações. Para chamadas urgentes, o viva-voz deve ser usado com cautela, sempre garantindo que não comprometa a atenção.
Em qualquer situação que exija digitar, ler mensagens ou usar aplicativos, a orientação é parar em local seguro.
“Não existe justificativa aceitável para usar o celular dirigindo. A pressa de responder uma mensagem nunca será maior que a responsabilidade de preservar vidas. É preciso mudar a cultura de tolerância com essa prática“, conclui Pydd.
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