Brasil já tem mais trabalhadores por aplicativos do que a população de 19 capitais
Com 1,7 milhão de profissionais, setor de transporte e entregas por app cresce 30% em dois anos e consolida nova face do mercado de trabalho no país
César Tizo - outubro 22, 2025
O número de brasileiros que têm nas plataformas digitais sua principal fonte de renda atingiu um novo patamar histórico. Em 2024, cerca de 1,7 milhão de pessoas atuavam em aplicativos de transporte, entregas, serviços e táxi, segundo dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua). O avanço é expressivo: em apenas dois anos, o contingente saltou de 1,3 milhão em 2022, um acréscimo de 335 mil trabalhadores.
A dimensão do grupo impressiona. Hoje, o total de profissionais “plataformizados” já supera a população de 19 capitais brasileiras, entre elas Recife (1,6 milhão), Goiânia (1,5 milhão), Belém (1,4 milhão) e Porto Alegre (1,4 milhão). A comparação ajuda a ilustrar o tamanho de um fenômeno que se consolidou como uma das principais transformações do mercado de trabalho nacional.
A pesquisa classifica a chamada gig economy em quatro grandes frentes: transporte particular de passageiros (como Uber e 99), entrega de comida ou produtos (iFood, Rappi), prestação de serviços gerais ou profissionais (GetNinjas, Workana, 99Freelas) e táxi. Entre elas, o transporte particular responde pela maior fatia, com 878 mil pessoas, mais da metade do total, um aumento de 29,2% em relação a 2022. Em seguida aparecem os entregadores (485 mil), os prestadores de serviços (294 mil) e os taxistas (228 mil).
Os ganhos variam amplamente e dependem da carga horária. Levantamento do GigU mostra que um motorista de aplicativo que trabalha entre 50 e 60 horas semanais pode faturar de R$ 77 mil a R$ 103 mil por ano. No entanto, os custos com combustível, manutenção, seguro e impostos reduzem significativamente a renda líquida, fazendo com que o lucro efetivo fique entre R$ 28 mil e R$ 51 mil anuais, dependendo da cidade.
Segundo Luiz Gustavo Neves, CEO e cofundador da fintech, o crescimento do trabalho mediado por plataformas evidencia “uma tendência global: a economia digital não apenas cria novos empregos, mas redefine o próprio conceito de trabalho”. Para ele, o desafio do Brasil é “integrar inovação, inclusão e sustentabilidade social” de modo que “os benefícios alcancem trabalhadores e consumidores”.
O avanço dos trabalhadores de aplicativos revela tanto a flexibilidade e a autonomia que o modelo oferece quanto a vulnerabilidade estrutural que ainda o acompanha. Com expansão mais acelerada do que o emprego formal em vários setores, o trabalho via plataformas digitais se tornou não apenas uma alternativa, mas uma realidade econômica urbana, capaz de redefinir as fronteiras entre emprego, renda e liberdade no Brasil contemporâneo.