Veículos antigos e de uso intensivo lideram emissões em São Paulo
Pesquisa da iniciativa TRUE, em parceria com a CETESB, analisou mais de 323 mil medições; confira o resultado do estudo
César Tizo - dezembro 9, 2025
Os resultados detalhados do estudo “Avaliação das emissões reais dos veículos em São Paulo”, conduzido pela iniciativa The Real Urban Emissions (TRUE) — desenvolvida pelo International Council on Clean Transportation (ICCT) e pela FIA Foundation — em parceria com a CETESB, reforçam a urgência de políticas públicas voltadas para a redução das emissões dos veículos em uso, especialmente os mais antigos e aqueles submetidos a uso intensivo, como táxis e automóveis de aplicativos.
Apresentado no último dia 3 na capital paulista, o levantamento analisou mais de 323 mil medições por sensoriamento remoto, captadas em condições reais de tráfego. Os dados revelam que veículos antigos, apesar de representarem apenas 5,5% da amostra de automóveis de passageiros, são responsáveis pela maior parte das emissões em circulação.
Frota envelhecida amplia impacto ambiental
Segundo o Relatório de Emissões no Estado de São Paulo, a frota paulista vem envelhecendo: em 2024, a idade média dos veículos — incluindo carros, comerciais leves, caminhões, ônibus e motocicletas — chegou a 11 anos. O efeito direto é o aumento da poluição.
Veículos mais antigos foram projetados para limites de emissões menos rigorosos e, com o avanço tecnológico, tornaram-se defasados. A deterioração natural ao longo dos anos e a falta de manutenção agravam o quadro, elevando significativamente as emissões.
Táxis e veículos de aplicativo poluem até quatro vezes mais
Outro dado que chamou atenção no estudo foi o impacto dos veículos de uso intensivo. Segundo a análise, táxis e carros de aplicativos podem emitir até quatro vezes mais que veículos particulares equivalentes. A combinação de alta quilometragem e manutenção insuficiente acelera o desgaste dos sistemas de controle de emissões.
Por isso, as recomendações do estudo indicam que veículos de uso intensivo devem ser prioridade em programas de eletrificação, por apresentarem maior deterioração em condições reais.
Limites evoluíram, mas qualidade do ar ainda preocupa
Apesar dos avanços promovidos pelo PROCONVE, as concentrações médias anuais de dióxido de nitrogênio (NO₂) e partículas finas na Região Metropolitana de São Paulo continuam acima das diretrizes atualizadas da Organização Mundial da Saúde (OMS).
Para a CETESB, a pesquisa traz uma visão inédita e crucial sobre o comportamento dos veículos em circulação real. “Esse histórico permitiu reduções expressivas em veículos novos, mas ainda há desafios importantes”, destacou Maria Helena Martins, diretora de Qualidade Ambiental da CETESB. “O estudo TRUE permite entender a emissão efetiva dos veículos em uso, diferente das medições em laboratório.”
Evidências para orientar políticas públicas
Para o ICCT, os resultados reforçam a necessidade de fortalecer políticas baseadas em evidências. “O que apresentamos não é apenas um diagnóstico, mas uma ferramenta poderosa para orientar políticas eficazes”, afirmou Marcel Martin, diretor do ICCT Brasil.
A Secretaria Municipal de Mudanças Climáticas também participou do evento e destacou o impacto direto da poluição veicular na saúde pública e nas metas climáticas. “O trânsito é hoje o principal responsável pelas emissões que prejudicam a saúde do paulistano, que pode viver até quatro anos a menos por causa da poluição”, afirmou o secretário José Renato Nalini.
Como o estudo foi realizado
A pesquisa utilizou tecnologia de sensoriamento remoto por meio de um equipamento horizontal de medição óptica, capaz de detectar emissões enquanto os veículos passam em velocidade normal. Dois sensores foram instalados simultaneamente em nove pontos da cidade, sobretudo no entorno das marginais, para garantir diversidade e evitar repetição de amostras.
Ao todo, foram registradas cerca de 150 mil placas únicas, permitindo correlacionar emissões a características da frota. A CETESB reforça que, apesar da logística complexa, o método ofereceu um retrato inédito das emissões reais da capital paulista.
Principais recomendações dos especialistas
O estudo aponta caminhos prioritários para reduzir a poluição veicular:
Criação de um programa regional ou nacional de inspeção veicular.
Fortalecimento da eletrificação e substituição das frotas mais poluentes.
Adoção ampla de tecnologias de medição em uso real, como o sensoriamento remoto.
Avanço regulatório do PROCONVE, com foco especial em veículos antigos e mais poluidores.
O relatório completo integra a série global de estudos TRUE e servirá como base para ICCT e CETESB no apoio à formulação de políticas públicas voltadas à qualidade do ar e clima.
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