Cientistas brasileiros criam sistema que recompensa motoristas por reduzir emissão de CO₂ nas cidades
Projeto MobiCrowd, desenvolvido por UFF e Inmetro, combina 5G, blockchain e inteligência artificial para promover mobilidade sustentável com recompensa financeira por eficiência ao volante
César Tizo - julho 2, 2025
Já pensou ser recompensado por dirigir de forma mais eficiente e emitir menos poluentes? Essa é a proposta do MobiCrowd, projeto pioneiro desenvolvido pela Universidade Federal Fluminense (UFF) em parceria com o Inmetro, com apoio da Faperj. A iniciativa integra o recém-inaugurado V2Lab – Laboratório de Tecnologias em Comunicações Veiculares, um centro de inovação que posiciona o Brasil na vanguarda da mobilidade conectada e sustentável.
Com infraestrutura de ponta, como antena 5G instalada no campus da UFF e sistemas de coleta em tempo real, o V2Lab reúne pesquisadores, estudantes e empresas em torno de um objetivo comum: transformar os veículos em agentes ativos na construção de cidades mais inteligentes, seguras e limpas.
“O carro deixa de ser apenas um meio de transporte e passa a contribuir diretamente para cidades mais sustentáveis, com motoristas mais conscientes — tudo isso com tecnologia nacional e segurança de dados”, explica Raphael Machado, coordenador do projeto e pesquisador do Inmetro.
Raphael Machado, coordenador do projeto MobiCrowd e pesquisador no Inmetro
Recompensa por dirigir bem
Um dos principais avanços do MobiCrowd é a criação de uma plataforma de monetização de dados, em que os motoristas são recompensados por boas práticas ao volante. A remuneração pode chegar a R$ 0,10 por litro de combustível economizado, com base em indicadores como condução defensiva, eficiência energética e redução de emissões.
O sistema funciona por meio de blockchain, garantindo transparência e segurança. Os dados são processados com criptografia avançada, como blockchains permissionados e criptografia homomórfica, permitindo ao motorista decidir quais informações deseja compartilhar. Quanto mais dados forem disponibilizados, maiores as chances de receber bonificações.
Segundo Wladmir Chapetta, pesquisador do Inmetro e responsável pela tecnologia, a ideia é “valorizar o cidadão como protagonista da mobilidade inteligente, com controle total sobre seus dados, recompensas reais e impacto positivo para o meio ambiente”.
Resultados e próximos passos
Nos testes iniciais, veículos monitorados percorreram mais de 200 km em trechos urbanos, gerando 200 GB de dados brutos. Esses dados alimentam modelos matemáticos e de inteligência artificial que medem, em tempo real, o estilo de condução e a emissão de poluentes de cada veículo.
Além disso, o projeto propõe uma abordagem mais completa para medir emissões. Ao considerar toda a cadeia de produção de energia, os pesquisadores apontam que veículos elétricos não são totalmente livres de emissões — e que motores a combustão com biocombustíveis podem atingir níveis similares de sustentabilidade.
Emissões relativas por tipo de veículo:
Veículos elétricos: emitem entre 7% e 17% do registrado por um carro a gasolina
Veículos com biocombustíveis: emitem até 20% do registrado por um carro a gasolina
Essas informações, antes restritas a grandes empresas, agora podem estar nas mãos dos próprios motoristas, com impactos diretos em políticas públicas, planejamento urbano e educação ambiental.
Potencial de escala e impacto nacional
Cerca de 25 milhões de veículos no Brasil já contam com a tecnologia necessária (porta OBD-II) para se conectar ao sistema. A próxima fase do MobiCrowd prevê investimento de R$ 3 milhões para validação comercial da tecnologia e parcerias com os setores público e privado.
O projeto também serve de base para iniciativas como o Descarbonize.AI, que reúne instituições como UFRN, UFPB, Volkswagen, Stellantis e integra o programa federal MOVER (Mobilidade Verde).
“Estamos diante de uma mudança estrutural no papel do carro na sociedade. Transformar veículos em aliados do meio ambiente e da inteligência urbana é mais que tecnologia — é compromisso com o futuro das cidades”, conclui Raphael Machado.