Ex-CEO da Stellantis alerta para risco de ruptura entre operações da Europa e EUA
Em novo livro, Carlos Tavares afirma que a união entre França, Itália e Estados Unidos pode não resistir às pressões políticas e sindicais
César Tizo - outubro 24, 2025
Dez meses após deixar o comando da Stellantis, Carlos Tavares voltou a fazer críticas à gigante automotiva que ajudou a criar. Em um novo livro publicado na França, o ex-CEO alerta para a possibilidade de uma futura ruptura entre as operações europeias e norte-americanas do grupo, caso a atual gestão não consiga preservar o equilíbrio entre os polos francês, italiano e dos Estados Unidos.
“Estou preocupado que o equilíbrio tripartite entre Itália, França e EUA se rompa”, afirmou Tavares, ressaltando que a sobrevivência da Stellantis como companhia independente depende da atenção diária à sua unidade interna.
Formada em 2021 pela fusão entre Fiat Chrysler Automobiles (FCA) e PSA Group, a Stellantis reúne 14 marcas — entre elas Jeep, Fiat, Citroën, Opel, Dodge, Alfa Romeo e Maserati. O conglomerado, porém, enfrenta um cenário desafiador, com queda na demanda global, avanço das marcas chinesas e incertezas geopolíticas em meio à transição tecnológica do setor automotivo.
Carlos Tavares foi CEO da Stellantis entre 2021 e 2024
Durante sua gestão, Tavares promoveu cortes de custos, transferiu operações para países com mão de obra mais barata, como o Marrocos, e adotou home office em larga escala. As decisões geraram atritos com governos e sindicatos, especialmente na Itália, e levaram à saída de vários executivos — alguns deles migraram para a chinesa BYD, que expande presença na Europa.
O ex-CEO também reconhece que a busca por eficiência extrema acabou afetando a qualidade e o posicionamento de produtos, contribuindo para a queda nas vendas e na rentabilidade.
Atualmente, a Stellantis é comandada por Antonio Filosa, ex-líder das operações latino-americanas da Fiat Chrysler, incluindo o Brasil, que assumiu em junho após uma longa busca por um novo CEO. Filosa vem revisando investimentos na Europa e anunciou US$ 13 bilhões em aportes nos Estados Unidos, mercado mais lucrativo da companhia. As medidas, no entanto, geram preocupação entre sindicatos franceses e italianos, que temem perda de influência.
Tavares conclui o livro sugerindo que uma divisão geográfica entre Europa e América do Norte pode ocorrer no futuro. “Um dos cenários possíveis seria uma fabricante chinesa adquirir o negócio europeu, enquanto os americanos retomariam o controle das operações na América do Norte”, escreveu Tavares, citando o modelo de refocalização regional adotado pela GM na última década.
O alerta reacende o debate sobre o futuro da Stellantis e o desafio de manter coesa uma das maiores empresas automotivas do mundo, em um momento de rápidas transformações no setor.
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