Ford redefine estratégia global e híbridos passam a ser prioridade
Para o CEO Jim Farley, mudança reflete uma adaptação à nova realidade do mercado: “o cenário operacional mudou”
César Tizo - dezembro 16, 2025
A Ford Motor Company anunciou nesta semana uma reviravolta radical em sua estratégia de eletrificação, abandonando planos de produzir veículos elétricos (VEs) de maior porte e redirecionando investimentos para híbridos, picapes a combustão e um novo negócio de armazenamento de energia em baterias. A decisão representa um reconhecimento de que a demanda por elétricos não atendeu às expectativas e que os custos permaneceram proibitivos.
A montadora descontinuará a produção de veículos elétricos maiores previamente planejados, incluindo uma van comercial elétrica para a Europa e outra para a América do Norte. No lugar, a Ford lançará versões a gasolina e híbridas mais acessíveis. A mudança mais emblemática atinge a icônica F-150 Lightning: a próxima geração da picape será um veículo elétrico de autonomia estendida (EREV), com motor a combustão auxiliar, prometendo mais de 700 milhas (1.120 km) de alcance.
“A realidade operacional mudou, e estamos redirecionando capital para oportunidades de crescimento com maior retorno“, afirmou Jim Farley, presidente e CEO da Ford. Segundo a empresa, a estratégia é “orientada pelo cliente” e visa criar uma companhia “mais forte, resiliente e lucrativa“.
Adeus aos elétricos de grande porte, olá aos híbridos
A Ford agora concentrará o desenvolvimento de veículos puramente elétricos em uma nova Plataforma Universal, voltada para modelos menores e mais acessíveis. O primeiro produto será uma picape de médio porte, com produção iniciando em 2027 na planta de Louisville.
A companhia projeta que até 2030, cerca de 50% de seu volume global será composto por híbridos, VEs de autonomia estendida e veículos totalmente elétricos — um salto significativo em relação aos 17% atuais. Quase todos os modelos da marca terão opção híbrida ou multi-energia até o fim da década.
A produção da atual F-150 Lightning foi encerrada, com funcionários sendo transferidos para apoiar um terceiro turno de produção de picapes F-150 a gasolina e híbridas. O centro de produção em Dearborn, Michigan, que produzia a Lightning, agora se dedicará à versão EREV.
F-150 Lightning: picape elétrica será “convertida” para propulsão EREV
Fábricas americanas ganham novos produtos
A Ford está reprogramando suas instalações nos Estados Unidos para expandir sua liderança em picapes e vans comerciais, com planos de contratar milhares de funcionários nos próximos anos.
Em Tennessee, o complexo BlueOval City, originalmente planejado para produzir VEs, agora fabricará picapes a gasolina a partir de 2029. A empresa descreve os novos modelos como “acessíveis” e destinados a ampliar sua família de picapes.
A fábrica de Ohio se tornará um centro para a divisão Ford Pro, produzindo a nova van comercial a gasolina e híbrida a partir de 2029, além dos chassis Super Duty.
Apostas em baterias para data centers
Uma das iniciativas mais surpreendentes é o lançamento de um negócio de sistemas de armazenamento de energia em baterias (BESS). A Ford planeja realocar capacidade ociosa de fabricação de baterias para VEs em suas plantas no Kentucky e Michigan para atender a crescente demanda de data centers e infraestrutura de rede elétrica.
A companhia investirá aproximadamente US$ 2 bilhões nos próximos dois anos para escalar o negócio. A fábrica em Glendale, Kentucky, será convertida para produzir sistemas avançados de armazenamento de energia de 5 MWh ou mais, com previsão de começar os envios em 2027 com capacidade anual de 20 GWh.
Separadamente, a planta BlueOval Battery Park em Marshall, Michigan, produzirá células menores para soluções residenciais de armazenamento de energia, além de fornecer baterias para a futura picape elétrica de médio porte.
O custo da mudança de rota
A reestruturação tem custo alto. A Ford espera registrar cerca de US$ 19,5 bilhões em itens especiais, a maioria no quarto trimestre de 2025, relacionados à racionalização de ativos e mudanças no cronograma de produtos elétricos. Desse total, aproximadamente US$ 5,5 bilhões terão efeito no caixa, com a maior parte a ser paga em 2026 e o restante em 2027.
Apesar dos encargos, a empresa elevou sua projeção para 2025, estimando EBIT ajustado de cerca de US$ 7 bilhões, graças à “força subjacente dos negócios” e melhorias de custos. O fluxo de caixa livre ajustado deve ficar entre US$ 2 bilhões e US$ 3 bilhões, tendendo ao limite superior da faixa.
A divisão Model e (veículos elétricos) só deve alcançar lucratividade em 2029, com melhorias começando em 2026. As ações também devem impulsionar os lucros da Ford Blue (veículos a combustão) e Ford Pro (comerciais) ao longo do tempo.
Contexto de mercado desafiador
A reviravolta da Ford reflete um momento delicado para a indústria automobilística. A demanda por veículos elétricos nos Estados Unidos cresceu menos do que o previsto, os custos de produção permanecem elevados e mudanças regulatórias criaram incertezas. Outras montadoras também têm recalibrado suas metas de eletrificação diante dessa realidade.
Doug Field, diretor de VE, digital e design da Ford, defendeu a nova F-150 Lightning EREV como “revolucionária”, mantendo “100% de entrega de potência elétrica” e aceleração abaixo de 5 segundos, mas adicionando autonomia estimada acima de mil quilômetros e capacidade de reboque superior.
A empresa reafirma seu compromisso com a neutralidade de carbono em seus veículos, instalações de fabricação e cadeia de suprimentos até 2050, apesar das mudanças estratégicas.
A Ford também anunciou recentemente parcerias na Europa, incluindo colaboração com a Renault para desenvolvimento de VEs nos segmentos comercial e de passageiros, além de mudanças na liderança regional para impulsionar uma “ofensiva de produtos” com veículos multi-energia de nova geração.
We use cookies to ensure that we give you the best experience on our website. If you continue to use this site we will assume that you are happy with it.Ok