Valorização dos seminovos supera com folga a dos veículos zero-quilômetro entre 2020 e 2025, refletindo mudanças dos consumidores
César Tizo - dezembro 18, 2025
O mercado brasileiro de veículos usados passou por uma transformação profunda desde o início da pandemia de Covid-19. Levantamento do IBV Auto, índice que acompanha a variação dos preços de automóveis leves usados no país, mostra que os valores desses veículos acumulam alta de 80,5% desde janeiro de 2020 até novembro de 2025. No mesmo período, os carros zero-quilômetro, medidos pelo IPC-Fipe, registraram aumento bem menor, de 51,9%.
A diferença evidencia que, a partir de 2020, os preços dos usados passaram a subir em ritmo significativamente mais acelerado do que os dos veículos novos. A comparação entre os índices padronizados mostra que, desde o início do ciclo de valorização, o mercado de usados reagiu de forma mais intensa a cada movimento de alta dos zero-quilômetro.
De acordo com Roberto Padovani, economista-chefe do banco BV, o comportamento reflete uma mudança estrutural no perfil do consumidor. Segundo ele, os fortes reajustes dos carros novos ao longo da pandemia reduziram o acesso de parte do público aos zero-quilômetro, direcionando a demanda para o mercado de usados. Esse deslocamento ajudou a pressionar ainda mais os preços dos seminovos, que passaram a concentrar um volume maior de compradores do que o observado historicamente.
O movimento está diretamente ligado à escalada de preços dos veículos novos, intensificada durante o período de crise sanitária, quando gargalos na cadeia produtiva, escassez de componentes e aumento de custos elevaram os valores de tabela. Diante desse cenário, muitos consumidores passaram a enxergar o usado como alternativa viável, aquecendo o segmento e impulsionando sua valorização.
Embora os dois mercados caminhem de forma interligada, a resposta não foi simétrica. A cada novo ciclo de aumento dos preços dos zero-quilômetro, os usados reagiram com variações mais fortes, reflexo da elevada sensibilidade do consumidor brasileiro ao preço do carro novo. Mesmo com sinais mais recentes de acomodação, os valores seguem em patamares historicamente elevados, especialmente no mercado de usados, que ainda carrega os efeitos acumulados do forte movimento de alta observado nos últimos anos.
Para Jamil Ganan, diretor executivo de Varejo do banco BV, o cenário atual exige maior cautela do consumidor. Segundo ele, apesar de uma relativa estabilidade recente, os preços continuam altos, o que reforça a importância do planejamento financeiro, do uso consciente do crédito e da escolha criteriosa do veículo para evitar comprometimento excessivo do orçamento familiar.
O IBV Auto foi desenvolvido para medir com precisão a variação de preços dos automóveis leves usados no Brasil, com base em um amplo volume de transações reais registradas pelo banco BV, líder em financiamento de veículos no país. O índice utiliza metodologia que inclui critérios rigorosos de amostragem, ajustes por depreciação e agrupamento técnico de modelos, permitindo acompanhar a evolução mensal dos preços por região e tipo de propulsão, como combustão, híbridos e elétricos.
A ponderação considera o valor total das negociações, levando em conta volume e preço. Modelos mais caros e mais negociados têm maior peso na composição do índice. O ano de 2019 foi adotado como base histórica, com o indicador nacional fixado em 100, o que permite comparações consistentes até os dados mais recentes de 2025. Nos recortes regionais, a base é ajustada conforme as diferenças médias de preços em relação ao mercado nacional, garantindo uma leitura mais fiel da dinâmica do mercado de usados.
Além de medir a evolução geral dos preços, o IBV Auto também acompanha mensalmente as taxas de desvalorização de veículos a combustão, híbridos e elétricos, permitindo comparar o comportamento de modelos com diferentes tipos de propulsão, desde que apresentem idade e características gerais semelhantes.
