ABVE questiona: híbridos leves são, de fato, veículos eletrificados?
Presidente da Associação Brasileira do Veículo Elétrico levanta discussão sobre a tecnologia presente em modelos como o Pulse Hybrid
César Tizo - dezembro 5, 2024
O mercado de veículos eletrificados no Brasil registrou em novembro o melhor desempenho de sua série histórica, com 17.413 unidades emplacadas. O crescimento representou um aumento de 62% em relação ao mesmo período de 2023 e consolidou uma expectativa otimista para o fechamento do ano, que deve superar 160 mil veículos vendidos. Apesar dos avanços, a expansão das vendas de híbridos leves (MHEV), que representaram 11,2% das vendas no mês, trouxe à tona um debate sobre o que é, de fato, a eletrificação no setor automotivo.
Ricardo Bastos, presidente da Associação Brasileira do Veículo Elétrico (ABVE), destacou que, embora os números gerais reforcem o crescimento da eletromobilidade no Brasil, é necessário avaliar se todos os veículos comercializados como eletrificados realmente atendem às expectativas de descarbonização e eficiência energética. Bastos questionou especificamente os híbridos leves, que utilizam sistemas de baixa tensão (12V ou 48V) para auxiliar o motor a combustão, mas não possuem tração elétrica.
Tal tecnologia está presente nos recém-lançados Fiat Pulse e Fastback Hybrid, além de versões do CAOA Chery Tiggo 5x e Tiggo 7, entre outros modelos. Vale salientar que Ricardo Bastos também ocupa o cargo de diretor de assuntos institucionais da GWM Brasil, fabricante que conta apenas com veículos híbridos plenos, híbridos plug-in ou 100% elétricos em seu portfólio local. Antes de assumir o posto na GWM Brasil, Bastos ocupou cargo equivalente na Toyota, montadora que, desde 2019, produz em nosso país o Corolla Hybrid com mecânica híbrida plena bicombustível.
“Temos de avaliar se alguns dos chamados micro-híbridos, que têm um baixíssimo grau de eletrificação e não têm tração elétrica, contribuem efetivamente para a descarbonização da matriz de transporte do Brasil”, declara Bastos. “Nem todos esses veículos apresentam reduções significativas das emissões de poluentes em relação aos modelos convencionais a combustível fóssil ou flex.”
O presidente da ABVE também destacou que os consumidores podem ser levados a crer que estão adquirindo veículos mais sustentáveis, sem necessariamente obter os benefícios esperados. “Será que esses modelos proporcionam ao consumidor uma verdadeira experiência de dirigir um veículo elétrico ou eletrificado?”, indagou Bastos, apontando que a percepção pública sobre eletrificação pode ser prejudicada se tecnologias de baixa eficiência forem tratadas como soluções de mobilidade sustentável.
Enquanto isso, os 100% elétricos (BEV) e híbridos plug-in (PHEV), mantiveram ampla liderança no mercado brasileiro, representando 72% das vendas de eletrificados em novembro. Já os híbridos convencionais (HEV e HEV flex) ficaram com 16,9%.
O crescimento do mercado de micro-híbridos foi impulsionado pelo lançamento de novos modelos que adotaram sistemas de eletrificação mínimos em veículos originalmente a combustão. Essa tendência levanta a necessidade de critérios mais claros para classificar tecnologias eletrificadas, especialmente em um momento em que o Brasil busca consolidar sua transição para uma mobilidade mais limpa.
Com resultados expressivos ao longo do ano, o mercado de eletrificados se aproxima de 170 mil unidades vendidas em 2024, um aumento de 80% em comparação a 2023. Porém, a discussão sobre o impacto ambiental de tecnologias como os híbridos leves reforça a importância de avançar com políticas públicas e regulamentações para o setor.
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