Marcelo Cavalcante | Vendas de carros elétricos caem no Brasil; entenda os motivos
Prometidos como o futuro, carros elétricos travam no presente: vendas caem e expõem os limites da eletrificação no Brasil
César Tizo - maio 8, 2025
Consultor Marcelo Cavalcante de Lima analisa as vendas de carros eletrificados no primeiro quadrimestre de 2025 trazendo reflexões importantes sobre o tema:
No mês de abril, as vendas específicas de veículos elétricos e híbridos representaram 10% do mercado total, com 19.840 unidades comercializadas, um crescimento de 10,50% em relação ao mês anterior.
No acumulado do ano, já foram vendidos 70.555 automóveis e comerciais leves eletrificados, o que representa um aumento de 37,60% em comparação com o mesmo período de 2024 e uma participação de 9,87% sobre o total comercializado pelo setor.
100% elétricos em queda
Os modelos totalmente elétricos encerraram abril com 4.702 unidades vendidas, queda de 2% em relação a março. No acumulado do ano, foram 17.674 unidades, volume 15% inferior ao registrado no primeiro quadrimestre de 2024.
A BYD lidera as vendas de veículos elétricos com 75,15% de participação (13.282 unidades, queda de 13,74%). A Volvo aparece em segundo lugar com 9,06% de participação e 1.601 unidades vendidas, registrando crescimento de 116% ante o ano anterior. A GWM completa o trio com 1.005 unidades, o que representa queda de 60,80% em comparação com o mesmo período de 2024.
Há diversos fatores que ajudam a explicar a retração nas vendas dos elétricos puros. Um deles é o excesso de estoque de algumas montadoras chinesas. Isso diminui a urgência de compra por parte do consumidor, que se depara com produtos ainda fabricados em 2024, enquanto outros fabricantes já lançam modelos 2026.
Além disso, persistem desafios como a infraestrutura de recarga e as dificuldades para instalação de carregadores em condomínios mais antigos. O excesso de estoque também leva a promoções e descontos agressivos, o que pode gerar uma percepção negativa do produto entre consumidores que ainda enxergam o automóvel como investimento.
Mesmo com esse cenário, algumas marcas premium registraram forte crescimento nas vendas de elétricos: a Volvo avançou 116%, a Porsche cresceu 328% e a Mercedes-Benz, 81%. Os dados mostram que o produto continua com boa aceitação em nichos específicos.
Híbridos plug-in disparam
Os híbridos plug-in encerraram o quadrimestre com 26.882 unidades vendidas, crescimento de 92,84% em relação ao ano anterior. A BYD lidera com 62,77% de participação (16.874 unidades, alta de 157%). Em segundo lugar aparece a GWM, com 6.330 unidades (crescimento de 105%), seguida pela Volvo, com 1.287 unidades (queda de 1,15%).
O desempenho dessa tecnologia mostra uma mudança de comportamento do consumidor. Diferente dos elétricos puros, os híbridos plug-in competem diretamente com modelos a combustão. Fatores como pacotes de equipamentos, autonomia, preço e valor de revenda pesam na decisão. Mesmo com o aumento de impostos previsto para junho, o cenário segue positivo para essa categoria em 2025.
Híbridos puros recuam
Já os híbridos puros (HEV) terminaram o quadrimestre na última posição, com 9.510 unidades vendidas, queda de 13,47% em relação ao ano anterior. A Toyota lidera com 60,87% de participação (5.789 unidades, queda de 16,32%), seguida pela GWM com 17,74% (1.687 unidades, recuo de 28,58%).
Entre os fatores que explicam essa retração estão a baixa variedade de modelos ofertados com essa tecnologia, o redirecionamento da produção da Toyota para atender à demanda por veículos a combustão, a concorrência com os modelos chineses do tipo plug-in e a diferença de alíquotas: os híbridos puros enfrentam imposto de importação de 25%, enquanto os plug-in pagam 20%. Em julho, haverá novo aumento de impostos. Enquanto diversos lançamentos de elétricos e híbridos plug-in estão chegando ao mercado, apenas a Toyota deve lançar um novo HEV neste primeiro semestre — o Yaris Cross —, o que limita a competitividade da categoria.
Híbridos leves ganham tração
Os híbridos leves (MHEV, de 12 V e 48 V) acumularam 16.489 unidades vendidas no primeiro quadrimestre, alta de 198% em relação ao mesmo período de 2024. A Fiat lidera com ampla vantagem: 68,73% de participação (11.333 unidades), seguida pela Mercedes-Benz (2.353 unidades) e pela Caoa Chery (1.314 unidades).
Esse crescimento está ancorado principalmente nos lançamentos da Fiat. Como já apontado em outras análises, a Stellantis leu bem o mercado ao desenvolver produtos que atendem às normas de emissões com a tecnologia MHEV, sem grandes custos adicionais. A solução representa um passo no processo de eletrificação nacional. Embora os benefícios não se equiparem aos de outras tecnologias, a produção local e os investimentos em P&D são pontos positivos — assim como acontece com a Toyota.
Resumo do fechamento
30 modelos elétricos mais vendidos O BYD Dolphin Mini liderou entre os modelos 100% elétricos, com 5.627 unidades vendidas — alta de 55% sobre o ano anterior. Vale lembrar que em 2024 o modelo só foi lançado no segundo bimestre. Comparando apenas os meses de abril, as vendas do Dolphin Mini em 2025 caíram 30% em relação a abril de 2024.
30 modelos híbridos plug-in mais vendidos O BYD Song manteve a liderança entre os plug-in, com 11.784 unidades vendidas no quadrimestre — crescimento de 79,55% em relação ao mesmo período do ano passado. Muitos modelos plug-in apresentaram forte expansão, confirmando o bom momento dessa tecnologia.
30 modelos híbridos puros mais vendidos O Toyota Corolla Cross liderou entre os híbridos puros, com 3.196 unidades vendidas, queda de 28,42% em relação ao quadrimestre anterior. A queda está ligada ao redirecionamento da produção para as versões a combustão. No total (híbridos + combustão), o modelo cresceu 47,56%. As versões a combustão sozinhas avançaram 87%. Em 2024, os híbridos respondiam por 34% das vendas do Corolla Cross; em 2025, apenas 16,6%.
30 modelos híbridos leves mais vendidos O Fiat Fastback lidera entre os híbridos leves, com 6.451 unidades no quadrimestre. A versão MHEV representa 42% das vendas totais do modelo.
Reflexões para o setor
Os números do quadrimestre trazem importantes reflexões. O crescimento dos eletrificados é essencial para a evolução do setor automotivo brasileiro. No entanto, é necessário ajustar políticas de tributação para estimular o mercado de forma inteligente, assegurando novos investimentos, geração de empregos e o fortalecimento da indústria nacional — sem ceder a pressões de grupos econômicos.
Dolphin Mini lidera emplacamento de elétricos no Brasil, mas vendas em abril de 2025 caíram 30% em relação ao mesmo mês de 2024
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