O que pode estar por trás da decisão da GM de entrar na F1?
Movimentação da GM pode ir mais além do que uma estratégia de marketing; confira análise
César Tizo - novembro 18, 2023
Talvez motivadas pela nova administração da F1 a cargo de uma empresa norte-americana, companhias como a Ford e a GM resolveram abraçar de vez a categoria.
A movimentação da GM poderia até ser considerada apenas como um maciço investimento de marketing, entretanto é inegável pensarmos na seguinte questão: por que uma fabricante que já deixou claro que só vai comercializar veículos elétricos no longo prazo resolveu destinar alguns milhões de dólares para competir em uma categoria ainda fortemente vinculada ao universo dos motores térmicos?
Revisão na estratégia?
Em janeiro de 2021, é bom recordarmos, a GM tornou pública sua “aspiração” de não comercializar mais nenhum veículo emissor de gases poluentes a partir de 2035. A decisão abrange todas as marcas do seu portfólio, entre elas a Chevrolet, e terá alcance global.
Entretanto, no comunicado da Cadillac desta semana, um trecho salta aos olhos.
A divisão de luxo da GM esclarece que “o processo de desenvolver uma unidade de potência para a F1 aumentará a experiência da empresa em áreas que incluem eletrificação, tecnologia híbrida, combustíveis sustentáveis, motores a combustão interna de alta eficiência, controles avançados e sistemas de software“.
Ora, se a GM não esconde a “aspiração” de comercializar apenas modelos não poluentes a partir da próxima década, por qual motivo ela estaria interessada em gastar tempo e dinheiro com “motores a combustão interna de alta eficiência” ou até mesmo “tecnologia híbrida“?
Talvez uma observação mais atenta envolvendo mercados desenvolvidos, como o europeu, nos ajude a entender um dos motivos pelo qual a GM pode fazer uma revisão em sua estratégia de longo prazo.
Elétricos ainda não são unânimes
Segundo uma interessante reportagem da Reuters publicada nesta semana, apesar do aumento de 47% nos emplacamentos de automóveis 100% elétricos na Europa entre janeiro e setembro deste ano, fabricantes como Tesla, Mercedes-Benz e o Grupo Volkswagen não vislumbram números muito positivos em um horizonte próximo.
Concessionários na Alemanha e na Itália, bem como estudos realizados por quatro empresas globais de análise de dados, pontuam que, além da incerteza econômica que abala o continente europeu, em especial pelos juros elevados e pelo mercado desaquecido, os consumidores não estão convencidos de que os carros elétricos podem satisfazer suas necessidades em termos de autonomia e, sobretudo, de preço.
Philip Nothard, diretor da Cox Automotive, empresa que atua na área de precificação automotiva, acrescenta que a desvalorização acentuada dos carros elétricos também afasta o público da tecnologia.
Com isso, alguns consumidores preferem postergar a compra ou a troca do seu automóvel para uma fase após 2025, quando a nova geração de carros elétricos deverá chegar ao mercado com baterias mais sofisticadas, maior autonomia e, o mais importante, com preços mais acessíveis.
Sobre esse tema, vale citar que a paridade de valores entre os carros a combustão e os elétricos é esperada para ocorrer entre 2027 e 2028, como apontou o Grupo Renault recentemente.
Como tudo isso afeta a GM?
Muito do que foi dito até aqui sobre o mercado europeu também já é observado nos EUA, o que pode fazer a GM rever seus planos de uma migração tão acelerada para os veículos puramente elétricos.
A Ford, por exemplo, não seguirá esse caminho e obtém um grande sucesso comercial em seu país-sede com modelos como a Maverick Hybrid. A Toyota, por sua vez, também segue firme investindo em seus híbridos e híbridos plug-in.
Aliando todas as informações citadas até aqui com os esforços da GM para entrar na Fórmula 1, fica a sensação de que a gigante norte-americana pode rever sua estratégia de eletrificação, quem sabe até cogitando o desenvolvimento de modelos híbridos.
É fato que, ao não serem abalados por problemas como a falta de infraestrutura para recarga e contarem com preços mais competitivos, os híbridos são mais do que necessários para pavimentar o caminho rumo aos carros elétricos.
Outro ponto importante a ser levado em conta são as operações da GM fora dos EUA, sobretudo em mercados emergentes, como é o caso do Brasil.
Por aqui, praticamente todos os grandes players do setor, tais como Stellantis, Volkswagen e Toyota, enxergam nos híbridos flex a saída mais viável para a descarbonização economicamente sustentável dos seus portfólios.
Logo, seria até arriscado para a marca Chevrolet, aqui no Brasil, não contar com um híbrido flex em sua gama no médio prazo, uma vez que as concorrentes diretas vão disponibilizar no mercado carros mais eficientes, sobretudo nos segmentos de maior volume, como os SUVs compactos.
Mesmo que a Chevrolet consiga oferecer por aqui elétricos com preços mais acessíveis, resta saber se eles são de fato o desejo do público, em especial nas áreas mais afastadas dos grandes centros.
Portanto, pelo fato de a GM ainda manifestar interesse em “motores a combustão interna de alta eficiência“, assim como na “tecnologia híbrida“, pode ser que um cenário mais equilibrado de transição energética volte a figurar nos planos da gigante norte-americana. A conferir.
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