Após recorde de importação de carros chineses, como os 81.700 veículos em estoque podem afetar o mercado?
Consultor Marcelo Cavalcante avalia os reflexos desse fato no mercado automotivo brasileiro; confira análise completa
César Tizo - setembro 10, 2024
Confira análise completa do consultor Marcelo Cavalcante de Lima repercutindo dados recentes da Anfavea sobre o estoque de carros chineses no Brasil e seus impactos no mercado:
Na semana passada ocorreu a tradicional apresentação da Anfavea com os resultados da indústria automobilística, incluindo dados sobre produção, exportações e vendas. No entanto, neste conteúdo, vamos focar nos estoques disponíveis de veículos importados da China.
De acordo com o levantamento da Anfavea, somente no mês de junho foram importadas da China 70.200 unidades, resultando em um estoque remanescente de 81.700 veículos ao final de agosto — um volume suficiente para quase nove meses de vendas.
Embora pudéssemos alterar o título para “Recorde de importações em um único mês” ou “Maior estoque da história do segmento de importados”, aqui vamos analisar os possíveis efeitos desse estoque no mercado.
Em primeiro lugar, esse volume de estoque reflete o excedente de produção na China. Em segundo lugar, as montadoras entrantes importaram essa quantidade para antecipar o aumento do imposto de importação. Em terceiro lugar, não podemos ignorar a capacidade logística da China para exportação. E, em quarto lugar, o Brasil deve fechar o ano como um dos maiores mercados consumidores para as marcas automotivas chinesas.
O grande volume de importações permitirá, em tese, que as montadoras chinesas apliquem reajustes menores em seus preços, concedendo-lhes uma vantagem competitiva em relação aos principais concorrentes. No entanto, um estoque excedente para quase nove meses não é uma prática saudável em gestão comercial, pois pode levar à queda de preços e à redução da rentabilidade de toda a cadeia — uma estratégia que seria inimaginável para a indústria local.
Além disso, o setor enfrenta pressão em relação ao ano de fabricação dos veículos. Iniciar o ano com um excedente de veículos fabricados no ciclo anterior tende a provocar queda de preços e a adiar novos lançamentos e investimentos.
Não sabemos qual será a estratégia das novas entrantes para reduzir os estoques antes do fim do ano; o volume excedente pode até ser exportado, mas é difícil prever para onde.
Esse movimento de importação certamente terá reflexos, envolvendo não apenas estratégias comerciais, mas também possíveis mudanças nas políticas de importação.
Para comparação, as montadoras locais encerraram agosto com um estoque suficiente para 34 dias. Em uma situação normal, seria fácil imaginar estratégias comerciais para reduzir esse estoque e os impactos no mercado. No entanto, essa não é uma situação normal, uma vez que o grande volume de importação foi planejado.
O equilíbrio dos estoques é essencial para o bom desempenho de qualquer operação, proporcionando redução de custos, adequação de fluxos de caixa, diminuição de despesas com estruturas, danos ao estoque, interrupções na produção e perdas financeiras. Portanto, será interessante observar quais serão as estratégias das novas entrantes para ajustar os estoques e se surgirão novas surpresas.
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